Carlos Vieira Dias*

 

       Vem a fotografia nos últimos anos a assumir um papel cada vez mais importante na feitura da História, antes como complemento iconográfico, agora já documento com valor intrínseco. Já é possível usar as fotografias produzidas nos últimos 150 anos não só como testemunhos de factos e eras, mas como História propriamente dita, pois as imagens transportam-nos como observadores directos dos factos e das épocas.
       Como nos diz José Miguel Sardica em A fotografia e a humanização da historia1, "Nesse sentido, o carácter realista, verídico, fidedigno da fotografia, captando e fixando para a posteridade momento, um evento, um rosto, e possibilitando hoje "ver" pessoas e cenas como se "lá" tivéssemos estado, permite enriquecer, e muito, o conhecimento sobre épocas e temas do passado. " No presente caso podemos "presenciar" toda (ou quase) a evolução que o edifício construído para paços do concelho e que nunca o foi, e da própria praça fronteira tiveram num período de aproximadamente um século.
       Inicialmente convento (fig. 1), depois repartição pública (fig. 2), tribunal, cadeia, repartição finanças, tesouraria, casa do povo, etc., (fig. 3, 4, 5, 6) actualmente Escola Superior de Tecnologia Abrantes (fig. 7).
       O rossio fronteiro, depois de espaço público onde se efectuavam feiras e mercados e se corriam toiros2, chega ao período em apreço como rossio com o respectivo coreto, talvez parada militar, para nos anos 40 assistir à construção do jardim que, com algumas modificações, se mantém.
       E esta evolução histórica que é possível observar com este acervo fotográfico, que faz de nós espectadores das diversas épocas retratadas.
       A máquina do tempo funciona, ainda que só num sentido.

 

Notas

*Membro do CHELA, comerciante.

1 In História, n.º 55, de Abril de 2003.

2 Livro de Actas da CMA, n.º 1, f. 48, sessão de 12 de Novembro de 1616.

 

 

1 - Convento de Nossa Senhora da Graça, demolido no século XIX

2 - Edifício do início do século XX, construído para Paços do Concelho

3 - Edifício já com Repartição Pública - cerca de 1915

4 - Edifício ao fundo e rossio, onde se efectuava o mercado

5 - Largo da Misericórdia com edifício ao fundo - cerca de 1920

6 - Cerca de 1940

7 - Escola Superior de Tecnologia de Abrantes - 2002

 Artigo publicado na revista Zahara nº1 - maio 2003