As superstições fazem parte do imaginário de um povo e o concelho da Sertã não é excepção. Por aqui continua bem viva a expressão dessas superstições e para se ter uma ideia recuperamos alguns dos hábitos e costumes que a ciência olha de soslaio.

Por exemplo, nas adegas, enquanto o mosto ferve, não é aconselhada a entrada de mulheres em período fértil, porque o mosto se estragará. O mesmo se aplica aos casos onde esteja um alambique de destilação de aguardente em laboração, porque a aguardente se turvará. O remédio, quando isto acontece, é o homem urinar sobre o alambique.

Por seu lado, quando alguém deita sangue pelo nariz, deve colocar-se-lhe uma cruz nas costas sem que ela o saiba e o sangue estanca rapidamente.

Já na freguesia da Cumeada, se visitar um enfermo é bom dizer, na sua presença, as seguintes palavras ditas e tornadas: “– Custódio amigo meu. /– Amigo de Deus, mas nanja teu./– Dize-me lá as treze palavras ditas e tornadas./Custódio disse:/– Direi, direi que eu bem as sei./– Então dize-me lá a primeira./– A primeira é a Santa Casa de Jerusalém onde nasceu Cristo e morreu por nosso bem./– As duas?/– As duas, são as duas tábuazinhas de Moisés, onde Nosso Senhor Jesus Cristo pôs os seus divinos pés./– E as três?/– As três são as três pessoas da Santíssima Trindade./– E as quatro?/– As quatro são os quatro Evangelistas./– E as cinco?/– As cinco são as cinco chagas./– E as seis?/– As seis são os seus círios bentos./– E as sete?/– As sete são os sete sacramentos./– E as oito?/– As oito são as oito bem-aventuranças./– E as nove?/– As nove são os nove meses que Maria Santíssima trouxe Jesus no seu ventre./– E as dez?/– As dez são os dez mandamentos./– E as onze?/– As onze são as onze mil virgens./– E as doze?/– As doze são os doze apóstolos./– E as treze?/– As treze não as digo. Treze raios leva o Sol, treze raios leva a Lua, rebenta, diabo, salta para a rua, que esta alma é de Deus, não é tua”.

Curioso é o facto de antigamente se acreditar que quando uma mãe tinha sete filhas uma delas seria impreterivelmente bruxa e se fossem sete filhos um seria lobisomem, também chamado «legresomem». No caso das raparigas, a mais velha baptizava a mais nova e assim cortava-lhe o signo «sina». No caso dos rapazes, o mais novo punha-se atrás da porta e picava o mais velho e quando este lhe fazia sangue deixava de ser «legresomem».

O recurso à citação de ensalmos para curar maleitas era frequente. No caso do Quebranto (também conhecido por Acedente), o curandeiro(a) acendia uns pequenos paus de moita e, fazendo três brasas e tendo próximo uma tigela ou alguidar com água, deitava uma brasa para a água e dizia: “Deus te gerou,/Deus te tire o mal/Que por ti entrou”.

Por cada uma das restantes brasas que deitava na água repetia as mesmas palavras. Depois molhava a mão na água onde deitou as brasas e passava-a três vezes por cima da pessoa ou animal doente. Seguidamente tomava uma toalha servida (não devia estar lavada) da cozinha e passava igualmente três vezes por cima da pessoa ou animal, repetindo as palavras acima referidas também três vezes.

In Sartagografia