AINDA JÚNIOR IMPRESSIONOU JOHN MORTIMORE

Joaquim Mendes1

Nasceu em Lisboa, o seu bilhete de identidade regista-o como natural de Atalaia do Campo, no Fundão, mas, verdadeiramente, Joaquim Mendes, considera-se um homem de Alferrarede, onde seus pais se fixaram tinha ele apenas três anos de idade.

Daí que se assuma como um autêntico ribatejano, o que acontece desde que, chamado para a Luz, para aí prestar provas, desde logo impressionou os técnicos do futebol jovem do Benfica, que nele viram imediatamente um rapaz verdadeiramente dotado para o difícil lugar de guarda-redes.

Durante quatro anos de águia ao peito, Mendes confirmaria totalmente o que dele se aguardava, rubricando excelentes atuações na defesa da baliza dos encarnados, vencendo sucessivamente, todas as competições onde o Benfica participava, alinhando ao lado de outras futuras estrelas do firmamento do futebol português.

Ante a liderança de "mister" Ângelo Gaspar Martins, o bicampeão europeu que, também como técnico, deixa o seu nome muito diretamente ligado às maiores proezas do futebol do SL Benfica, Joaquim Mendes, tendo como companheiros, entre outros, o malogrado José António, Pereirinha, Nélson Moutinho, José Luís, Jorge Silva e Fernando Chalana, não só ia exibindo as suas reais faculdades como "keeper" como, por outro lado, começava a impressionar fortemente, John Mortimore, o exigente técnico inglês que o Benfica havia contratado para liderar a melhor equipa da Luz.

E, mesmo com José Henrique, anda a por cento e Manuel Galrinho Bento a começar a discutir uma tão ambicionada titularidade, ambos constituindo uma sólida garantia para "mister" Mortimore que contava também com António Fidalgo, como terceiro "keeper", Joaquim Mendes, ainda como júnior, viu o treinador britânico conceder-lhe um importante voto de confiança, ao convocá-lo para melhor equipa, como suplente de Bento.

No entanto, dado o excesso de guarda-redes (e todos eles bons) no Benfica, o mais jovem, precisamente Joaquim Mendes, viria a ser cedido, para rodar, ao Famalicão, então treinado pelo magriço e ex-leão, José Carlos.

Aí, ao lado de Homens bem-sonantes do futebol português, casos de Jacques, que foi goleador no FC Porto, de Zezinho, que se sagrou campeão nacional no Sporting e de Reinaldo, mais tarde transferido para o Benfica, Joaquim Mendels conquistaria mais um dos seus títulos, o de campeão nacional da II Divisão.

Seguir-se-ia um ciclo sempre positivo, integrando equipas lideradas por técnicos como Manuel José, Paulo Autuori, Ferreira da Costa, José Rocha e Mário Wilson, entre outros, todos eles a proporcionarem excelentes ensinamentos em relação ao seu futuro como treinador.

Ainda dentro das quatro linhas de jogo, as excelentes exibições do guardião de rara elasticidade e de enorme espírito de sacrifício, justificaram a sua chamada à seleção olímpica, chegando também a ver o seu nome ser sugerido para discutir com Manuel Bento, Vítor Damas e Jorge Martins, um lugar na baliza da equipa de todos nós, para o Europeu de 84 e para o Mundial de 86, o que não chegaria a verificar-se. 

Em Portimão, "nasce" um treinador ambicioso

No entanto, seria na temporada de 1995-96, precisamente com José Torres, o magriço que, em 1986, havia sido o selecionador nacional, que Joaquim Mendes daria os seus primeiros passes como técnico, ocupando o cargo de adjunto do Bom Gigante.

Nos algarvios do Portimonense, onde na época de 1991-92, decidira colocar um ponto final na sua carreira, como jogador, alinhando ao lado de nomes como Duílio e Skoda, na equipa que subira de divisão, Joaquim Mendes abraçava um novo projeto, dispondo-se a seguir em frente numa nova etapa da sua vida ligada ao futebol.

Assim, nos Açores, mais concretamente em São Miguel, começa por treinar o modesto Miramar, seguindo-se o Micaelense, que liderou até ao Nacional da III Divisão e, mais tarde, o Madalena, do Pico, que se sagraria campeão nacional da III Divisão, com o seu nome a ficar muito diretamente ligado a algumas das proezas do futebol açoriano.

No entanto, não ficariam por aqui as ações de promoção do antigo guarda- redes de uma das melhores equipas de juniores do Benfica, pois, novamente no Algarve, Joaquim Mendes viria a ter um forte contributo na subida do Lagoa até ao Nacional da II Divisão, referindo "ao aceder ao convite para treinar o Lagoa, fi-lo basicamente por amizade, rendendo o meu antigo colega no Benfica, Nelson Moutinho, o pai de João Moutinho. Felizmente, as coisas correram-nos de feição e o Lagoa acabou por subir."

Para além da promoção, Joaquim Mendes liderou também o Lagoa na "Taça de Portugal", tendo defrontado o Sporting, em Alvalade, onde, segundo o técnico, "a equipa saiu de cabeça erguida, acabando até por perder por números exagerados, ante uma equipa com o potencial do Sporting e, na primeira parte, estivemos até mais perto do golo que o nosso conceituado adversário."

Antes de Alvalade e recordando uma célebre frase do seu antigo técnico e amigo José Torres, proferida antes do Mundial do México, em 1986, Joaquim Mendes, também afirmara "sei que ganhar ao Sporting, será muito difícil, mas deixem-nos ao menos, sonhar."

O Lagoa e Joaquim Mendes acabaram por ficar afastados da "Taça de Portugal" mas o técnico continua a sonhar na concretização de outros objetivos.

Joaquim Mendes

FIRMEZA: em Alvalade, frente ao Sporting, Joaquim Mendes mostrou-se um treinador esclarecido

NOME: JOAQUIM José Pereira MENDES

NASCEU: 16-07-1959 em Lisboa

 MODALIDADE: futebol LUGAR: guarda-redes

CLUBES COMO JOGADOR: Sport Lisboa e Benfica (1972-76); Famalicão (1977-78); Sporting Espinho (78-79); Académica (80-82); SL Benfica (82-84); Portimonense (84-85); Varzim (85-86); Marítimo (86-88); Olhanense (88-90); Portimonense (91- 92)

PALMARÉS: Vencedor da Tara Nacional de Iniciados; Campeão Nacional da Juvenis; Campeão Nacional de Juniores (pelo SL Benfica); Campeão Nacional da II Divisão (Famalicão); Participação na Tara UEFA (Portimonense);

INTERNACIONALIZAÇÕES: (4) na seleção olímpica, que disputou a qualificação para os Jogos Olímpicos de Seul e de Los Angeles

CLUBES COMO TREINADOR: Portimonense (1995-96), adjunto de José Torres; Miramar (1998-99); Micaelense (1999-00); Madalena (2003-05); Lagoa (200708);

Como treinador, liderou o Micaelense, de S. Miguel ao Nacional da III Divisão; venceu o Nacional da III Divisão à frente da equipa do Madalena (Pico) e comandou o Lagoa na promoção ao Nacional da II Divisão.

In: ARSÉNIO, Carlos - Ribatejo: terra de campeões: 1892-2008. Chamusca: Edições Cosmos, 2008. ISBN 978-972-762-309-9