casa diocesana

POR ERMELINDA CARMO, ERMELINDA COELHO E TERESA APARÍCIO

BREVE APONTAMENTO SOBRE O EDIFÍCIO

Foi no ano já distante de 1961 que esta Casa começou a funcionar como instituição diocesana. O edifício onde se encontra instalada está situado na Rua Actor Taborda n° 15, em Abrantes e foi, em tempos, residência de família. Passou a ser colégio, fundado pelo Cónego Silva Martins, com o nome de Colégio de Nossa Senhora de Fátima, até que se construiu para ele edifício próprio, em 1940. A seguir, o edifício foi ocupado pelo Grémio da Lavoura, durante 4 anos.

Na década de 50, era propriedade da Senhora D. Maria Cristina Moura Neves que, de propósito, para oferecer o edifício total à Diocese, comprou o terço que ainda não lhe pertencia.

A CASA DIOCESANA DE SANTA MARIA

A CONCRETIZAÇÃO DE UM SONHO

Foi criada esta Casa para atender à necessidade de um local próprio para as reuniões, retiros e ações de formação dos grupos de apostolado, nesta zona da Diocese.

Nasceu da intenção de uma senhora de Abrantes de colocar uma sua casa ao dispor de quem precisasse de a utilizar para estes fins - a Senhora D. Cristina Moura Neves Campos Mello. Fez desta Casa, que restaurou e equipou com bom senso e carinho, um centro de formação de grande alcance, no que foi apoiada pela sua família e pelo Senhor Cónego Albano Vaz Pinto.

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D Cristina Moura Neves Campos Mello, que restaurou e remodelou a Casa e a entregou à Diocese.

Nos fins de 1961, esta Casa foi entregue à diocese. Era uma casa confortável, bonita e funcional, com uma acolhedora Capela, quartos e espaços de acolhimento para cerca de 35 pessoas e salas onde se podiam reunir cerca de 100 pessoas.

Para além disso, continha os espaços e todo o equipamento destinado a Jardim-de-Infância.

Em anexo, restaurou-se um edifício próprio, especialmente, para a assistência às famílias.

A 13 de Dezembro de 1961, abriram-se as portas para as diferentes atividades.

O Senhor Cónego Albano Vaz Pinto que já tinha acompanhado as obras de restauro e equipamento, ficou a supervisionara Casa até ao seu falecimento, como delegado do Senhor D. Agostinho, Bispo de Portalegre e Castelo Branco. Já em tempos do Senhor D. Augusto César, sucedeu-lhe, nas mesmas funções, o Senhor Cónego António Lopes.

A equipa executiva inicial foi assim constituída:

a) Maria Cristina M. N. Campos Mello que prestou considerável colaboração na formação doméstica das jovens, alguns familiares de seminaristas e sacerdotes, em ordem a um futuro acompanhamento nas paróquias.

b) Ermelinda J. Coelho que assumiu, particularmente a gerência da Livraria, desde dezembro de 1961 até dezembro de 2007.

c) Ermelinda do Carmo M. Garcia, auxiliar social e educadora de infância que, entre outras funções, se responsabilizou pela formação técnica e social das raparigas residentes e pelo lançamento do serviço social, que chegou a ter larga projeção, com a ajuda da Cáritas. Geriu o economato e acompanhou os serviços necessários na realização dos cursos e retiros.

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Ermelinda Coelho que durante estes 50 anos fez parte da direção desta casa.

Por falecimento da Senhora D. Maria Cristina e saída de Ermelinda do Carmo, foi integrada na direção Natália Trigo.

Numa segunda fase, as funções de economato e coordenação do pessoal passaram, sucessivamente, a ser desempenhadas por:

  • Isabel Gaspar (1971 -1973)
  • Ermelinda Coelho (1973 -1974)
  • Irmã Braga (Doroteias) (1975 -1977)
  • Beatriz Fernandes (1978 -1980)
  • Adelaide Mendes (1980 -1998)
  • Maria Matilde Pinheiro (1998-2011)

- Ermelinda Coelho é a pessoa que desde o início até hoje, em regime de voluntariado, nesta Casa se tem mantido como elemento responsável da equipa, constituindo o elo de ligação entre os vários elementos que por aqui têm passado e superiormente com os serviços centrais da diocese.

SERVIÇOS QUE A CASA TEM OFERECIDO

À COMUNIDADE

“Casa da Criança” e Jardim Infantil

Foi fundada em 1948, na Paróquia de S. João, pelo Cónego Albano Vaz Pinto e teve como primeira direção José Sousa Falcão, Maria Teresa Santos e Fernanda Mena Moura Neves.

O primeiro local onde funcionou foi uma dependência da igreja de S. João com apenas sete crianças pobres.

A partir da inauguração da Casa de Santa Maria, já preparada para a receber, aqui se instalou a “Casa da Criança”. Ao tempo, era o único jardim infantil da cidade.

Destinava-se às famílias mais desfavorecidas de meios e na casa eram servidas refeições quentes, ali confecionadas.

Era sustentada, desde o início, por colaboradores, por quotas mensais e pela oferta de géneros alimentares, desde a abundância de peixe das pescas desportivas até às laranjas da C.M., da via pública.

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Numa segunda fase e por imperiosa necessidade do meio, a “Casa da Criança” passou a admitir crianças de outro escalão económico, adaptando o horário às possibilidades dos horários dos pais, o que contribuiu para quebrar muitas das barreiras sociais existentes então na cidade. Esta decisão foi benéfica para todos: houve uma interpenetração das “classes sociais” que, naquele tempo, eram muito demarcadas. Os pais das crianças de um meio social economicamente mais favorecido, que tiveram a coragem de aqui colocar os seus filhos foram, a princípio, severamente criticados por os misturar com os mais pobres.

Em 1952, a “Casa da Criança” fora já oficializada como IPSS, com o nome de Centro Social Inter-paroquial e passou a receber um subsídio estatal, para pessoal, o que, com as quotas de escalão atribuído às famílias que podiam participar, aliviou o encargo económico assumido pela casa diocesana.

Tendo contado sempre com a generosidade do pessoal da Casa Diocesana, realizaram-se colónias de férias, em anos sucessivos, nas praias da Vieira e Nazaré.

As educadoras e as ajudantes velavam por todo o sector, fazendo, rotativamente, limpezas, lavagem de roupa, etc.

Verificando-se a enorme afluência de crianças candidatas à admissão, o Centro In-ter-paroquial pediu e obteve do Estado a comparticipação para a construção de edifício próprio e, em 1999, deixou, por isso, livre o espaço ocupado na Casa de Santa Maria, para outras funções.

Hoje, o Centro Social Inter-paroquial funciona na Encosta da Barata, com múltiplas valências.

Serviços de Assistência Social

Este sector começou a funcionar logo depois da inauguração da Casa. De colaboração com a Cáritas Diocesana, recebiam-se géneros dos E.U., principalmente alimentos e roupas.

Estava-se numa época de crise nas metalúrgicas da zona, onde a maior parte dos chefes de família eram empregados. Estes, desempregados e os mais idosos, ficavam por vezes, em situação muito difícil por não haver, na época, subsídios de desemprego, nem pensões de velhice.

Durante anos e conforme as necessidades, foram atendidas, todas as semanas, cerca de 200 famílias e idosos, da região de Abrantes. Os géneros eram distribuídos gratuitamente, às vezes com uma participação simbólica para os transportes. A atribuição dos donativos era feita em estreita colaboração com as conferências de S. Vicente de Paulo, que despistavam os casos e os apresentavam.

Havia também assistência ocasional, ajudando a solucionar situações difíceis, quer por aconselhamento, quer por serviço direto. Para muitas famílias foi importante a ajuda dada e para muitas crianças o alimento de que precisavam. A Casa, neste aspeto, fez muito por aquela geração.

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Apoio Domiciliário

Sediado na Casa, a partir de 1986, este serviço do Centro Inter-paroquial de Assistência, atendeu várias pessoas e famílias, na sua própria casa, com alimentação, serviço doméstico e higiene pessoal.

Estes serviços eram prestados a várias dezenas de pessoas, sendo subsidiados pela Segurança Social.

 

Casa de Trabalho

Para atender aos tempos livres de raparigas da cidade, foi criada em 1962, uma Casa de Trabalho, que, diariamente, com monitoras especializadas, ensinava costura, bordados e outros trabalhos manuais.

Recebeu também ex-religiosas de clausura, que assim pretendiam fazer a sua “readaptação ao mundo”.

Hospedagem de professoras e estudantes

Procurando que estivessem ao serviço todas as possibilidades da Casa, receberam-se, por alguns anos, quando muitas das atividades pastorais passaram para a Casa de Castelo de Vide, professoras e alunas que procuravam hospedar-se num ambiente familiar, dando assim a Casa resposta a uma necessidade do meio escolar.

Atividade Pastoral

A Casa não organiza, por si mesma, atividades pastorais mas está disponível e oferece condições indispensáveis para encontros, cursos e retiros dos diversos movimentos apostólicos diocesanos, regionais ou mesmo só paroquiais.

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É testemunho geral de quem por aqui passa, que a Casa oferece sempre um ambiente acolhedor, colaborante e familiar, concorrendo assim para que todos se sintam bem.

Até cerca de 1975, estava sempre ocupada aos fins-de-semana e na maior parte dos serões, com grupos das igrejas locais e diocesanos.

Há na Casa, aposentos exclusivos, para a presença do Senhor Bispo, sempre que tenha atividades na nossa região.

Escola de Promoção de Raparigas

Inicialmente, esta equipa de serviço, que funcionou nos primeiros anos da casa, era constituída por raparigas que, sem ganharem, apenas a troco de alimentos e alojamento, se propunham fazer aprendizagem doméstica e social, recebendo a formação que a vida da Casa lhes poderia proporcionar. A estas e a outras raparigas, vindas de meios rurais de poucos recursos, foi ainda dada aqui a possibilidade de estudarem em cursos noturnos, em vista a futuras profissões. Algumas chegaram a ser professoras, médicas, etc.

Das cerca de 50 raparigas que nestas condições passaram pela Casa, algumas saíram para se casarem e 11 para a vida religiosa, em diferentes comunidades.

De um modo geral, o serviço que prestavam à Casa, sempre com boa vontade - e sem receberem nenhuma gratificação económica - foi-lhes muito benéfico em formação pessoal, doméstica e cultural.

No aspeto de ser lugar de formação e encontro de grupos, cumpriu a Casa a sua vocação primeira. Não havia tempos livres. Ninguém do pessoal podia fazer «fins-de- -semana» ou férias, por estarem ocupados com as atividades de pastoral que aqui se realizavam.

Biblioteca

É composta pelos livros oferecidos por várias pessoas, principalmente pela família Moura Neves, contando-se também com algumas ofertas de Barata Gil e outros.

Serviu principalmente às pessoas que residiam na Casa ou quem, de fora, procurasse algum tema de espiritualidade ou documentação eclesial.

Não se pode dizer que tenha tido relevo como serviço à população, embora para tal se tenha criado, pois a cidade tinha já na altura, ao dispor outras bem providas bibliotecas como, por exemplo, a Biblioteca Itinerante da Gulbenkian.

Livraria

A Livraria funciona na Casa desde a sua inauguração, em 13/12/1961.

Desde sempre, deu atenção particular aos livros de formação cristã (espiritualidade, magistério da Igreja), mas alargando ainda o seu interesse pela literatura infantil e didática.

Nas décadas de 60 e 70, teve considerável movimento, uma vez que o Colégio de N. S. de Fátima e o Colégio La Salle aqui se abasteciam de quase todo o material escolar, e dos livros didáticos para os seus alunos. O mesmo sucedia com muitas escolas da região.

A Livraria era também distribuidora dos catecismos e dos livros de Religião e Moral, nos concelhos limítrofes.

Com a extinção do Colégio La Salle e do curso dos liceus do Colégio de N. S. de Fátima, ficou extraordinariamente reduzido o volume de vendas da livraria.

Mantiveram-se sempre os artigos religiosos e a literatura cristã, como sua venda específica. Neste aspeto, tem sido sempre uma considerável presença da Igreja, no nosso meio.

Independentemente das vendas, a Livraria passou a ser um local de encontro e convívio que permitiu o desenvolvimento de uma ação apostólica discreta, bastante considerável, uma vez que à sua frente estava alguém atento às pessoas e, muitas vezes, já procurada por elas numa linha de apoio.

Em fins de 2007, em consequência das exigências de regime fiscal, o Senhor D. José Alves, Bispo da nossa Diocese, decidiu, de acordo com o Senhor Cónego José da Graça, fundar a Associação Cultural e Desenvolvimento Nova Aliança, com personalidade jurídica e nº fiscal independente, na qual se integrou a Livraria.

Na sequência destas alterações, foi entregue, gratuitamente, todo o recheio existente, àquela Associação, com a permissão de continuar a utilizar as mesmas instalações, sem qualquer compensação económica à Casa.

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Tesouraria

A Casa Diocesana de Santa Maria bastou-se sempre com o produto do seu trabalho, sem alguma vez ter recebido qualquer subsídio oficial ou diocesano.

O rendimento dos quatro apartamentos situados na Falagueira - Amadora, oferecidos pela Sra. D. Maria Cristina à Casa Diocesana, sempre foi usufruído, não pela Casa, mas pela Diocese.

Nos primeiros anos a Livraria foi o maior recurso económico das atividades exercidas pela Casa.

Constituiu, também, considerável ajuda o rendimento dos quartos alugados. Tais rendimentos permitiram enriquecer o equipamento e fazer as obras necessárias para restaurar o edifício: substituir por alumínio a madeira das janelas, a pintura total de exteriores e interiores e outras obras, especialmente na zona de sanitários.

Presentemente, a manutenção da Casa consegue-se a custo, com:

  • O pagamento de refeições das reduzidas atividades pastorais ali realizadas.
  • Pequenos contributos de certos grupos pela utilização da Casa.
  • Até dezembro de 2010, funcionou nesta Casa a Universidade da Terceira Idade de Abrantes (UTIA) que pagava uma renda pelas salas que ocupava. 

COMEMORAÇÕES DO 30. ° ANIVERSÁRIO

No 30° aniversário da Casa de Santa Maria, estiveram reunidas quase todas as raparigas que ali trabalharam durante estes 30 anos. Vieram de vários pontos do país. Foi muito gratificante ver a felicidade do encontro com as pessoas e lugares que muito tinham contribuído para o seu crescimento.

Nesta celebração foi ainda prestada uma singela homenagem à Sra. D. Maria Cristina Campos Mello, que falecera a 2/12/91. Foi colocada uma lápide comemorativa na Casa de Santa Maria.

IN: CARMO, Ermelinda; COELHO, Ermelinda; APARÍCIO, Teresa – Casa Diocesana de Santa Maria – meio século de vida. Zahara. Abrantes: Centro de Estudos de História Local. ISSN 1645-6149. Ano 9. Nº 17 (2011), p. 43-48