NO GIL VICENTE CHEGOU MESMO A CANTAR DE GALO

Fernando Rosado1

Foi mesmo um dos tais jogadores de futebol que terá passado ao largo de uma grande carreira: a Fernando Rosado, juvenil do clube da sua terra, o Alferrarede, depois júnior do Sporting Clube de Portugal e, mais tarde, integrando vários clubes dos diversos escalões nacionais, ter-lhe-á mesmo faltado, um empurrão, para ter visto o seu nome em grandes parangonas e, paralelamente, a sua cotação chegar aos mais elevados níveis, já que em termos de jogo jogado, o rapazinho buliçoso e afável de maneiras que, um dia, justificara, a atenção dos leões de Alvalade, alinhando depois, em excelentes equipas dos verdes e brancos, confirmou (e bem) os seus dotes.

Hoje, volvidos uns bons tempos desde que viu o Sporting acenar-lhe com uma aliciante proposta, mudando-se de malas e bagagens para Lisboa, estabelecido com um café na terra que o viu nascer e onde é pessoa amada a respeitada, considera, no entanto, que "o mundo do futebol profissional está cheio de alçapões, onde qualquer um poderá vir a cair, sendo muito poucos aqueles que se conseguem levantar."

Daí que não critique aqueles que não o ajudaram, quando o poderiam ter feito, sentindo-se naturalmente orgulhoso do seu passado como jogador e não deixando de referir que está muito bem na sua terra, entre os seus verdadeiros amigos.

"Depois do Sporting, onde fui campeão nacional de juniores e integrei por seis vezes, a seleção nacional, treinada pelo professor Jesualdo Ferreira, jogando ao lado do saudoso Zé Bento, do Diamantino Miranda, do Quinito, do Grilo e de outros, senti que o meu espaço de manobra em Alvalade, não seria muito grande, concordando em ser cedido ao Benfica de Castelo Branco, onde o treinador era Malta da Silva, antigo defesa do Benfica. Na altura, o Castelo Branco disputava o Nacional da III Divisão, conseguindo então a promoção à II", conta-nos.

De Castelo Branco à Académica de Coimbra e ao futebol do melhor escalão nacional, uma promoção que encantou o jovem que, antes, não hesitara em sair de Alvalade e do Sporting, onde havia tido como treinador, Cassiano Gouveia e como dirigente, Manolo Vidal, para tentar a sua sorte num futebol com outras características, o do Nacional da III Divisão, tal como refere:

"Em Coimbra e com a camisola da "Briosa" vivi tempos inesquecíveis. Estava então com vinte anos e albergava grandes sonhos, alguns deles concretizados com a camisola negra da Académica. Estive três épocas em Coimbra, aí disputando jogos que me haveriam de marcar profundamente. Mas, depois disso, deixei-me tentar por um convite que considerava aliciante, dizendo adeus a Coimbra e à Académica, o que talvez tivesse sido um mau passo, na minha carreira."

Com a camisola negra da "Briosa" Fernando Rosado, que fez a sua estreia pelo clube, a 23 de Agosto de 1980, chegou a realizar 84 jogos (7.076 minutos), efetuando o derradeiro encontro a 3 de Julho de 1983, antes de se decidir a ingressar no Ginásio de Alcobaça, onde viveu momentos algo dramáticos, como ainda hoje recordes e lamentos.

Os cheques carecas de Guerra Madaleno

"Sim, em Alcobaça e no Ginásio, passei por situações deveras aflitivas, pois vivi aí os tempos dos cheques carecas do dr. Guerra Madaleno, então presidente da direção do clube. Numa cidade de gente simpática e numa equipa constituída por excelentes profissionais, desde o Vital, o Modas, o Tonanha, o Dames, o Cavungi e outros, aconteceram coisas verdadeiramente terríveis, pois todos nós, os jogadores, tínhamos as nossas obrigações a cumprir e só vivíamos dos dinheiros ganhos no futebol," diz.

De Alcobaça e dos problemas vividos no Ginásio, uma mudança para Vizela, com José Romão à frente da equipa técnica e, na época seguinte, novamente com o alentejano de Beja (José Romão), que, largos anos depois, não viria a ser feliz à frente da Seleção Olímpica, como principal responsável, Fernando Rosado continuaria a evidenciar excelentes faculdades, deixando perfeitamente antever que, mais tarde ou mais cede, um dos grandes tentaria mobilizar o rapaz de Alferrarede para a Luz, as Antas ou até mesmo para Alvalade.

No entanto, tal não aconteceria, mesmo rubricando magnificas exibições com a camisola do Gil Vicente, para onde se transferira, bem depressa ganhando a titularidade na equipa de Barcelos, quer com Vítor Gomes como técnico, quer, depois, com António Oliveira e, a seguir, com Vítor Oliveira.

No Gil Vicente, Fernando Rosado, terá mesmo chegado a cantar de galo, desdobrando-se em múltiplas funções e tornando-se peça importante no desbobinar do jogo da equipa de Barcelos.

"Nessa altura, chegou-me um tentador convite do Sporting de Braga e talvez tivesse errado ao dizer não, pois tratava-se de um clube já com uma considerável projeção e onde poderia ter rubricado um outro tipo de atuações. No entanto, sentia-me bem em Barcelos e no Gil Vicente e como nunca fui um homem dado a grandes aventuras, decidi continuar onde me tratavam da melhor forma."

Aos 33 anos, Fernando Rosado, acaba, contudo, por trocar o Gil Vicente pelo Famalicão, na altura no Nacional da II Divisão, onde, devido a uma arreliadora lesão, vem a terminar uma carreira recheada de aspetos bem positives.

"Ainda fiz duas épocas no Famalicão, terminando em 1995, devido a um complicado problema num joelho, o que aconteceu no decurso de uma sessão de treino. Ao fim de vinte anos, como profissional de futebol, entendi que havia chegado a horas de arrumar as botas e de voltar para casa, para junto da família e dos amigos e foi o que fiz", diz-nos.

Mas, se ao futebolista de apreciáveis recursos terá faltado o tal empurrão para der o grande "salto", já o treinador de promissoras faculdades, terá iniciado a sus carreira da melhor maneira, conseguindo três promoções nos três primeiros anos de atividade, levando até à I Divisão da Associação de Futebol de Santarém, o Alferrarede, o Alcaravela e o Mação, o que justificou o natural interesse do Abrantes FC.

"O meu atual dia a dia é muito intenso, pois um café exige uma grande assiduidade e não poderia conciliar as duas atividades", explica-nos.

Fernando Rosado

"CAPITÃO" DOS "GALOS" DE BARCELOS: Rosado, frente ao FC Porto, disputa a bola com André, um dos históricos dos "dragões"

NOME: FERNANDO Carlos Alves ROSADO

NASCEU: 30-10-1959, em Alferrarede - Abrantes

Modalidade: futebol

CLUBES: Alferrarede Juvenis); Sporting Clube de Portugal Juniores); Benfica de Castelo Branco (Nacional da III Divisão); Associação Académica de Coimbra (Nacional da I Divisão); Ginásio de Alcobaça (Nacional da I Divisão); Vizela (Nacional da I Divisão); Penafiel (Nacional da I Divisão); Gil Vicente (Nacional da I Divisão); Famalicão (Nacional da II Divisão).

TÍTULOS: Campeão Distrital de Juvenis (Alferrarede); Campeão Nacional de Juniores (Sporting CP); Campeão Nacional da II Divisão (Gil Vicente), com Rodolfo Reis, como treinador.

INTERNACIONALIZAÇÕES: (6), presenças na seleção nacional de juniores.

Curso de Treinador Nacional, da Federação Portuguesa de Futebol (II Nível)

CLUBES COMO TREINADOR: Alferrarede, subida à I Divisão Distrital, da AF Santarém; Alcaravela, subida à I Divisão Distrital, da AF Santarém e Mação, subida à I Divisão Distrital, da AF de Santarém.

In: ARSÉNIO, Carlos - Ribatejo: terra de campeões: 1892-2008. Chamusca: Edições Cosmos, 2008. ISBN 978-972-762-309-9