CAMPEÃO QUE A MORTE CEIFOU CEDO

jose lourenco2

José Lourenço, um beirão nascido na pequena aldeia de Limeiras, concelho do Sabugal, mas, desde muito cedo a fixar-se, juntamente coma família, no Tramagal, onde, entretanto, seu pai se estabelecera, tornar-se-ia, tempos depois, não só uma figura idolatrada na localidade, como um dos seus verdadeiros símbolos, tal a natural repercussão dos seus êxitos, no atletismo.

Conhecido pelo "Cara Linda", dada a sua maneira de ser, mantendo sempre uma invejável simplicidade, José Lourenço ainda hoje é descrito pelos seus familiares e amigos mais chegados, como um rapaz verdadeiramente exemplar e um atleta de eleição, que a morte acabaria por ceifar tão cedo.

Joaquim Nunes, o popular "Quinó", uma figura do futebol ribatejano desde os seus tempos de jogador do CD Torres Novas, treinador do Tramagal Sport União, irmão de José Lourenço, recorda com saudade o homem de grande coração, o amigo e o atleta de eleição, que faleceu aos 37 anos de idade, quando tanto ainda havia a esperar da sua dedicação a família e à modalidade que lhe granjeou prestigio e mereceu o respeito e a admiração de muita gente.

Carlos Horta Ferreira, um dos grandes impulsionadores do atletismo no T.S.U., um homem bem documentado sobre uma modalidade que chegou a ser a menina bonita do prestigiado clube de Tramagal, lembra também José Lourenço, confirmando-se como um perfeito conhecedor de todo o percurso desportivo do rapaz que, em 1965, trocou o T.S.U., pelo Sporting e a pacatez do Tramagal, pelo bulício e fascínio de Lisboa, seduzido por um convite vindo de Alvalade e do professor Moniz Pereira, o senhor atletismo, já conhecedor das proezas do "Cara Linda", de Tramagal:

"Era absolutamente natural que isso viesse mesmo a acontecer. O José Lourenço, já entre nós, havia dado excelentes provas, deixando perfeitamente antever que se estava na presença de um atleta de largo e promissor futuro. Foi então, para Lisboa e para o Sporting, aí confirmando plenamente o que dele seria justo aguardar-se, tornando-se facilmente num grande campeão, mas mantendo, no entanto, a mesma postura de sempre, continuando a ser avesso a quaisquer tipo de vedetismos, continuando a ser amigo dos seus verdadeiros amigos, jamais merecendo que a morte lhe batesse à porta tão cedo."

Mas, se no atletismo, José Lourenço, mais tarde, colega de equipa, de autênticos "vips" da modalidade, tais como Manuel Oliveira, Carlos Lopes e Fernando Mamede, viria a cotar-se como um dos nossos grandes valores, seria, no entanto, no futebol, que o rapaz nascido na Beira Alta, começaria a impressionar.

Isto porque integrou uma excelente equipa de juniores do Tramagal S.U., só depois, acabando por ser seduzido pelo atletismo e pelas proezas de dois atletas do clube, José Lobato e Miguel Quinas.

Assim, em setembro de 1963, como individual, vence a sua primeira prova, no decurso da inauguração dos Campos de Basquetebol e de Voleibol do T.S.U., aí competindo com José Lobato, que, discordando da organização da competição, acaba por facilitar a vida ao jovem Lourenço que obtém assim, a sua primeira grande vitória, embora numa corrida de âmbito local.

Lourenço, um dos "meninos" de Moniz Pereira

Alguns amigos fazem então chegar elogiosas referências até Alvalade e não surpreende mesmo nada que, num curto espaço de tempo, José Lourenço se torne num dos "meninos" de Moniz Pereira, o professor que se mantinha à frente do atletismo do Sporting, fazendo-o com a competência e o entusiasmo de sempre.

Primeiro como júnior e depois como sénior, José Lourenço confirma totalmente as expectativas que se haviam gerado A sua volts, tornando-se num especialista em provas como os 1.500 metros, os 3.000 metros obstáculos e até os 5.000 metros, para além de se mostrar como um excelente elemento de equipas em várias estafetas.

Curiosamente, a 2 de Outubro de 1966, quando foi inauguração da pista de atletismo do Tramagal Sport União, vence nos 3.000 metros, aquele que viria a ser o nosso melhor atleta de sempre (Carlos Lopes), no decurso de um festival onde Fonseca e Silva (CDUL), triunfou nos 100 e nos 200 metros, José Pinas (Sporting), nos 800 metros, Morujo Júlio (Sporting), nos 1.500 metros e Manuel Goulão (Sporting), no disco.

Depois disso, voltaria a colecionar vitórias sobre vitórias, contribuindo decisivamente para muitos êxitos do atletismo do Sporting e deixando encantado Moniz Pereira.

Apontado pelos "experts" da modalidade, como o sucessor de Manuel Oliveira, que havia brilhado nos Jogos Olímpicos de Tóquio, José Lourenço Jamais viria a desapontar aqueles que nele tanto confiavam, continuando a protagonizar excelentes participações nas provas onde atuava ao mesmo tempo que deixava bem realçadas as suas qualidades humanas, tal como aconteceu numa corrida do Campeonato de Lisboa que um atleta do Benfica (Carlos Tavares) havia vencido, mas sem a presença de Lourenço, na altura lesionado.

No entanto, a falta de um obstáculo, obrigou A repetição da prova, verificando-se depois a vitória em tempo record de José Lourenço, o qual, algo surpreendentemente, ofereceu a medalha de primeiro classificado ao atleta benfiquista, numa decisão que impressionou profundamente atletas, dirigentes e até espectadores.

Quer pelas proezas de José Lourenço, como atleta, quer ainda, pelo seu comportamento como cidadão, teria, depois da sua morte, em 1984, uma bem significativa homenagem por parte da terra que o acolheu nos seus tempos de menino e moço, com a criação do "Memorial José Lourenço", iniciativa de Carlos Horta Ferreira, antigo atleta do T.S.U, mais tarde seu dirigente e uma personalidade perfeitamente identificada com "tudo" o que diz respeito a José Lourenço e aos demais atletas de uma localidade que, em cada Io de Maio - Dia do Trabalhador e do aniversário do T.S.U., nascido em 1922 - também não esquece um dos seus ídolos, José Lourenço.

jose lourenco

CAMPEÃO QUE A MORTE CEIFOU CEDO: José Lourenço, um grande valor do atletismo português

NOME: JOSÉ Pires LOURENÇO

NASCEU: 25-95-1947, em Limeiras, concelho de Sabugal (Beira Alta)

FALECEU: 08-11-1984, em Loures MODALIDADE: atletismo

CLUBES: Sporting Clube de Portugal (1965-1970) e Sport Lisboa e Benfica (1972).

PALMARÉS: Campeão de Portugal nos 4x800m. em 1967 e 1968;

Recorde Nacional nos 4x800 m., com Eduardo Simões, Domingos Capinara e José Pina (Sporting), em 17-09-1967;

Recorde Nacional nos 4x800 m., com Fernando Mamede, Domingos Capindiça e Morujo Júlio (Sporting), em 01-06-1969;

Nos 4x1500 m., com Morujo Júlio, Armando Aldegalega e Manuel Oliveira, (Sporting), conseguem 15.55,6, em 06-07-1968;

Nos 4x1500 m., com José Pina, Manuel Oliveira e Morujo Júlio (Sporting), batem record nacional com 15.51,6, em 24-08-1968;

Integrou a equipa do Sporting que, pela 10a vez consecutiva, venceu o Corte Mato dos Dez (27-01-1967);

Vencedor da 34a edição da estafeta Cascais-Lisboa, com Morujo Júlio, Carlos Lopes, Armando Aldegalega e Manuel Oliveira (Sporting), em 10-03-1967; ganhou o Troféu Guerin, vencendo os mil metros (28-04-1967);

Triunfou nos os 3.000 metros obstáculos, oferecendo a medalha ao benfiquista Carlos Tavares (16-06-1967).

Campeão regional (5) e nacional (5), por equipas (Sporting);

Internacional: com a Franca, Espanha e Marrocos e na Grécia (Taça das Nações), tendo também participado, no Grande Prémio de Barcelona (1967), correndo os 3.000 metros obstáculos, classificando-se em 2o lugar, atrás do vencedor, o seu colega de equipa, Manuel Oliveira.

jose lourenco1

EXÍMIO NOS OBSTÁCULOS: José Lourenço, comanda, uma vez mais, uma prova de obstáculos

In: ARSÉNIO, Carlos - Ribatejo: terra de campeões: 1892-2008. Chamusca: Edições Cosmos, 2008. ISBN 978-972-762-309-9