*A vingança da cigana, em 2018, no Grande Teatro Palácio das Artes, Minas Gerais, Brasil.

 

             António Leal Moreira nascido em Abrantes em 1758 e falecido em Lisboa a 21 de novembro de 1819, foi um dos mais importantes compositores portugueses de sempre.

            Entrou no Seminário da Patriarcal de Lisboa em 1776, onde foi discípulo de João de Sousa Carvalho e colega de Marcos Portugal, talvez o maior compositor clássico português de sempre, vindo a casar com uma irmã deste. Em 19 de maio de 1777 apresentou a Missa do Espírito Santo, que se cantou na cerimónia da aclamação da rainha D.ª Maria I. Foi organista da Sé Patriarcal, membro da Irmandade de Santa Cecília, a união dos músicos de Lisboa, mestre da capela real e da Patriarcal, mestre do Teatro da Rua dos Condes a partir de 1790, à época o mais importante de Lisboa, onde dirigiu a companhia lírica que passados três anos se mudou para o Teatro de S. Carlos inaugurando-o e onde seria o seu primeiro diretor, de junho de 1793 até 1800.

            Há partituras autógrafas suas na Biblioteca Pública de Évora e na Biblioteca da Ajuda, de óperas em italiano que já como mestre da capela real, escreveu para os teatros régios. Escrever as obras em italiano era a regra à época, sendo António Leal Moreira o segundo compositor a fazê-lo em português. Em 1793 foi encarregado de escrever uma serenata alegórica intitulada Il Natale Augusto, poema de Martinelli, que se cantou no palácio do capitalista Anselmo José da Cruz Sobral, para festejar o nascimento da primeira filha do príncipe D. João, D.ª Maria Teresa, que contou com interpretação da célebre Luísa Todi, que veio expressamente de Madrid.

            No Teatro de S. Carlos apresentou: A Saloia Namorada ou o Remédio é Casar, 1794; Os Voluntários do Tejo; A Vingança da Cigana, 1798; bem como Raollo, L'Eroina Lusitana e La Serva Riconoscente, óperas italianas da sua autoria, entre 1793 e 1798.

            Atingiu os píncaros da sua carreira com a composição da ópera-bufa IL Desertore Francese, levada à cena no Teatro Carignano, de Turim, no Carnaval de 1800, e no Scala, de Milão, a 8 de julho seguinte. Foi também autor de composições sacras, algumas das quais se conservam no Arquivo da Sé. Compôs uma sinfonia especificamente para os seis órgãos do Palácio Nacional de Mafra e serenatas para os paços de Queluz e Ajuda.

            Compôs ainda as óperas: Siface e Sifonisba, apresentada em Queluz em 1783; L’ imminei di Delfo; Esther e Eroi Spartani, cantadas na Ajuda em 1785, 86 e 88; Gli affetti del genio lusitano, cantada na Casa Pia do castelo de S. Jorge, em 1789. Uma antífona sua, Pax Jerusalemi, foi um sucesso em Portugal e em Inglaterra, onde também foi executada.

            A Vingança da Cigana, ainda em 2018 levada à cena no Grande Teatro Palácio das Artes, Minas Gerais, Brasil, é a única ópera da segunda metade do século XVIII escrita originalmente em português, em que subsiste completa a parte musical e o libreto. Composta em parceria com o brasileiro Domingos Caldas Barbosa, retrata os costumes da sociedade luso brasileira de fins do século XVIII, contendo também dois géneros musicais populares da época, a modinha e o lundu, inseridos nas árias.

            António Leal Moreira teve discípulos importantes como António José Soares e Frei José de Santa Rita Marques e Silva.

            Boa parte das suas obras estão atualmente disponíveis em linha na Biblioteca Nacional Digital e, a partir desta, agora também na coleção de música da Biblioteca Digital de Abrantes, de onde é natural.