Biografia

n. 02/10/1925, S. João do Peso, Vila de Rei, Castelo Branco
m. 26/10/1998, Lisboa

Muda-se para Lisboa ainda em criança. Conclui o curso secundário no Liceu Camões e frequenta Matemáticas Superiores na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (1943-1945). 

Romancista, Dramaturgo, Contista, Jornalista, Cronista e Ensaísta é justamente designado como um dos vultos maiores e mais destacados da ficção portuguesa da segunda metade do século XX.

A sua atitude ética face ao regime corporativista é notória desde a sua primeira obra, objecto de censura – “Caminheiros e outros Contos” (1949); bem assim, é de sublinhar a preocupação com a dessalinação, com a crítica à retórica passadista e ao método real.

Sem rupturas ideológicas drásticas, supera os quadros de referência literária do Neo-Realismo, em paralelo com o talento para a renovação dos procedimentos técnicos da narrativa não só no que ao género diz respeito mas também pela original incorporação de linguagens e práticas analíticas variadas como a publicidade, cinema, televisão e fotografia, fruto das suas experiências pessoais e profissionais.

Para a compreensão da evolução narrativa contemporânea impõe-se José Cardoso Pires como incontornável pelo seu posicionamento estético. O seu interesse pela sétima arte leva-o à composição de personagens na narrativa, fílmica entendendo um Romance com algo que é uma montagem. “ O Delfim” e a vários níveis exemplo disso mesmo, sendo uma narrativa que diversas vezes se cruza compondo uma montagem.Com esta obra / Romance de 1968, José Cardoso Pires apresenta-nos uma técnica narrativa nova. O facto de compor o real em fragmentos implica um propósito de homologar a ficção com o real numa supressão do neo-realismo muito subordinado a uma lógica causal.

A sua narrativa rege-se por uma sobriedade de processos com recusa da retórica e do empolamento estilístico, na linha de Steinbeck ou Hemingway.
Ainda que a sua estreia como escritor se verifique em contexto neo-realista rapidamente se distância evidenciando um contista marcado pela short-story anglo saxónico e interessado pelo quotidiano do pós-guerra. Afirmou-se igualmente no “Conto” como cultor exímio. Por outro lado, a produção narrativa de José Cardoso Pires emerge com o Romance. Pretende então elaborar uma «história de proveito e exemplos».

Subjacente também em toda a sua escrita está tópicos como mentalidades, valores, comportamentos, retrato ideológico e politico das várias classes sociais que a sua ficção analisa.

José Cardoso Pires foi por certo um dos melhores prosadores narrativos da literatura pós-moderna e contemporânea. Assimilou de um modo inicialmente exagerado, a arte da short story americana, e reagiu de forma clara contra certos sentimentalismos ainda inerente ao neo-realismo português tradicional.

A Obra de José Cardoso Pires

De entre diversas ocupações, trabalha como correspondente de inglês, agente de vendas e intérprete. Aproxima-se do Jornalismo em 1949 pela Revista “Eva”. Nos anos 60 assina artigos para: “Almanaque”, “Gazeta Musical e de todas as Artes”, suplemento “A Mosca” do Diário de Lisboa, publicação periódica de que foi director-adjunto depois do 25 de Abril.
Ainda em 1949 publica a sua primeira obra “Os Caminheiros e outros Contos” a qual acaba por ser retirada de circulação pela Censura.
Prossegue a sua produção literária com “Histórias de Amor” (Contos, Lisboa, 1952) “O Render dos Heróis” (teatro) e “Cartilha do Marialva” (ensaio) – Lisboa, 1960. “Jogos de Azar” e “O Hóspede de Job” – Prémio Camilo Castelo Branco, da S. P. dos Escritores em 1963.
1968 escreve “O Delfim”, romance a que se segue “Dinossauro Excelentíssimo”, uma fábula cruelmente satírica de Salazar provocando grande polémica dentro da Assembleia Nacional.
“E agora, José? “ (1977) traz à luz textos entre a crónica e o ensaio; Retorna ao Conto com “O Burro em pé” (1979).
“Corpo delito na Sala de Espelhos”, 1980, esmiúça o funcionamento da Polícia política do Estado Novo (PIDE). Em 1982, publica o romance “Balada da Praia dos Cães” – Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores inspirado no assassínio do Capitão Almeida Santos, em 1960.
Seguem-se narrativas dificilmente catalogáveis em géneros: Alexandra Alpha (1987), A República dos Corvos (1988) e A Cavalo no Diabo (1994) encontram-se em linhas intermédias entre crónica, o conto e a evocação de lembranças.
Escreve ainda um admirável relatório de auto-análise, na sequência de um AVC (De Profundis, Valsa Lenta) e de um livro sobre Lisboa (Lisboa – Livro de Bordo) editado em 1999.
O Fundamento na escrita de José Cardoso Pires
No plano dos conteúdos é de sublinhar a sistemática de reflexão sobre Portugal e os Portugueses.
Este é o grande tópico que percorre toda a sua obra encontrando momentos particularmente privilegiados em “Hóspede de Job”, “O Delfim”, “A Balada da Praia dos Cães” e “Alexandra Alpha”.