Foi do encontro de duas linhas férreas que surgiu o Entroncamento. A 7 de Novembro de 1862 foi inaugurado o troço da linha do leste, compreendido entre a Ribeira de Santarém e Abrantes. Dois anos depois, a 22 de Maio de 1864, foi a vez do troço entre o apeadeiro da Ponte da Pedra e a vila de Soure, pertencente à linha do norte. Surgiu, assim, o Entroncamento da Ponte da Pedra e depois, por abreviatura natural, somente Entroncamento.

Sobre aqueles anos escreveu um dia Eugénio Dias Poitout, um dos primeiros Presidentes de Câmara: «fixaram-se aqui, em condições de vida precárias, os pioneiros do caminho-de-ferro, oriundos de regiões e até de países distantes.» - Eugénio Dias Poitout in A Hora. Jornal Ilustrado, edição especial do XXIII aniversário do concelho do Entroncamento, de 24 de Novembro de 1968, p. 10.

Efetivamente, esta foi sempre uma das características da cidade: a origem diversificada da sua população, o que se traduz por uma grande heterogeneidade cultural. Inicialmente do estrangeiro, uma vez que técnicos franceses, espanhóis e ingleses aqui trabalharam na abertura do caminho-de-ferro. Mas a esmagadora maioria sempre foi oriunda de diversos pontos do País, sobretudo das Beiras e do Alentejo. Esta realidade explica o grande crescimento demográfico do núcleo urbano, que ainda hoje se mantém com a vinda de muitos novos residentes oriundos agora dos concelhos limítrofes, que em grande parte continuam ainda a ser atraídos pelos caminhos-de-ferro.

 A população, desde cedo, teve vontade de conseguir a autonomia em relação a Vila Nova da Barquinha, concelho a que então pertencia. A 25 de Agosto de 1926 foi criada a freguesia do Entroncamento, na qual teve um destacado papel o ferroviário José Duarte Coelho. A 21 de Dezembro de 1932 a povoação foi elevada a vila. A criação do concelho data de 24 de Novembro de 1945. Ou seja, em apenas 19 anos o Entroncamento passou de um simples lugar da freguesia da Atalaia, no concelho de Vila Nova da Barquinha, a sede de concelho.

Paralelamente, também a Igreja Católica se apercebeu da necessidade de reorganizar a sua estrutura no concelho manifestada através da criação de uma nova paróquia. Assim, da anterior paróquia da Sagrada Família surgiu recentemente a de Nossa Senhora de Fátima. Tratava-se, afinal, de um prenúncio da inevitabilidade de reorganizar também administrativamente a realidade concelhia. E, por tal, foi à designação atribuída à nova paróquia que se foi procurar o nome da nova freguesia.

O Entroncamento é um núcleo urbano relativamente recente, mas que, sempre demonstrou um rápido crescimento e uma forte vontade de autonomia política. Em 1998, cerca de 50% dos inquiridos por um jornal local manifestaram-se a favor da criação de uma freguesia na zona norte da cidade - ver O Entroncamento n.°954, de 6 de agosto de 1998, p. 3.


Características populacionais

Sendo uma unidade administrativa com características predominantemente urbanas, a população da freguesia do Entroncamento apresenta elementos bastante singulares.

Dispõe de uma população maioritariamente jovem, em grande parte devido à fixação de populações oriundas dos concelhos vizinhos que para aqui vieram e vêm residir, atraídos pelas facilidades de comunicação proporcionadas, sobretudo, pelos caminhos-de-ferro.

A sua população ativa trabalha principalmente no sector terciário (funcionalismo público, comércio, ensino). No entanto, há a destacar alguns grupos socialmente importantes pelo número de indivíduos que englobam:

a) Os ferroviários, que estão ligados ao aparecimento desta localidade e que ainda hoje constituem um importante sector da população;

b) Os militares residentes que, desde cedo, o Entroncamento recebeu com o estabelecimento de várias instituições militares, aos quais também acrescem os que exercem a sua atividade nos quartéis militares de localidades vizinhas, nomeadamente em Santa Margarida (concelho de Constância) e Tancos (concelho de Vila Nova da Barquinha).

 

Razões de ordem histórica

O território que atualmente corresponde ao concelho do Entroncamento era habitado muito antes da chegada dos comboios. Existem antigas referências ao Casal das Vaginhas que remontam ao século XVI.

No 1.° Livro de Registos Paroquiais da Paróquia da Atalaia ficou anotado o batizado realizado a 8 de Dezembro de 1549 de uma criança do sexo feminino, moradora naquele casal pertencente à vila de Atalaia. Num outro livro idêntico, relativo ao ano de 1647, encontram-se referenciados alguns batizados de moradores do Casal das Vaginhas e do Casal das Gouveias.

Também ao século XVII remonta a construção da Capela de São João Baptista, no Casal das Vaginhas, edificada com as esmolas oferecidas pelos seus habitantes e outros devotos. A Corografia Portuguesa do Padre Carvalho da Costa, publicada em 1712, confirma a sua existência - sobre estes primeiros tempos do núcleo urbano ver Luís Miguel Preto Baptista, Os Casais das Vaginhas, Câmara Municipal do Entroncamento, 2000, pp. 16-40.

Contudo, a população seria reduzida. Segundo a obra do Padre Carvalho da Costa, todo o termo da vila de Atalaia teria nos inícios do século XVIII apenas cerca de 250 habitantes, divididos por três núcleos populacionais (Moita, Barquinha e Casal das Vaginhas).

Como era uma zona rica em trigo, azeite, vinho, frutas e gado, os seus moradores dedicar-se-iam ao trabalho das suas próprias terras e nas grandes quintas próximas: a Quinta da Ponte da Pedra e a Quinta da Cardiga. Contudo, em meados do século XVIII, o azeite destacava-se como o único produto comercializado por ser excedentário, enquanto o vinho e os cereais nem todos os anos eram produzidos em quantidade suficiente para o consumo.

Mas o início século XIX foi marcante para estas populações. Por aqui passaram as tropas napoleónicas da terceira invasão francesa, comandadas pelo General Massena. Depois de recuar perante as Linhas de Torres Vedras, os franceses estabeleceram o seu quartel-general em Torres Novas, em Novembro de 1810. Nessa época exerceram verdadeiras atrocidades sobre os habitantes dos Casais das Vaginhas. Desses confrontos destacou-se o guerrilheiro Madrugo que, com os seus homens, em Janeiro de 1811, enfrentou um destacamento daqueles militares. Nesse célebre combate caíram 20 soldados de Napoleão e apenas dois guerrilheiros locais - ver ibidem, pp. 41-47.

Em meados do século XIX as Vaginhas constituíam uma pequena aldeia, mas movimentada com a passagem dos almocreves. A grande mudança regista-se já na segunda metade daquele século com a chegada dos caminhos-de-ferro.

Por volta de 1860, o atual Entroncamento era ainda um local quase ermo, denominado Ponte da Pedra, que já existia há alguns anos como um cruzamento de caminhos, muito frequentado pelos arcaicos almocreves que habitualmente se dirigiam para Coimbra.

 Foi em 1862, com o início da exploração do troço da linha do leste compreendido entre a Ribeira de Santarém e Abrantes, que este lugar começou a ser servido pela Companhia Real dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, que havia sido fundada a 20 de Junho de 1860, pela ação desencadeada por um espanhol, D. José de Salamanca - Frederico de Quadros Abragão, Caminhos-de-Ferro Portugueses. Esboço da sua história, Companhia dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, Edição do Centenário, 1956, pp.253-254. É importante lembrar que o primeiro troço, ligando Lisboa ao Carregado, apenas tinha sido inaugurado .seis anos antes, isto é, a 28 de Outubro de 1856.

Foi assim que o lugar denominado Ponte da Pedra, situado entre Tomar, Torres Novas, Santarém e Abrantes, e a meio caminho entre Lisboa e Coimbra, vê chegar os primeiros comboios. Mas porque passaria a linha dos caminhos-de-ferro por este local e não por um dos importantes centros urbanos que então o rodeavam?

Os habitantes da vila da Barquinha teimaram obstinadamente em afastar de si o comboio, pois viam nele o aniquilamento do seu porto fluvial do Tejo, que era a fonte de toda a sua prosperidade. No caso de Tomar, importantes questões políticas e económicas se levantaram, desde logo porque afastaria os almocreves com quem tanto lucravam os nabantinos, mas também porque seria uma opção muito dispendiosa, já que obrigaria à construção de um túnel de 2700 metros. Por outro lado, a indiferença dos habitantes de Torres Novas fez com que esta não fosse o local escolhido - ver Maria Madalena Lopes, Entroncamento. O caminho-de-ferro, fator de povoamento e de urbanização, Câmara Municipal do Entroncamento, 1996, pp. 23-31.

Se não fosse o receio em terminar com o tráfego fluvial no Tejo e as dificuldades, de ordem técnica, em atravessar a, lomba que separa os vales de Torres Novas e Tomar, talvez a atual cidade do Entroncamento não existisse ou não passasse de um pequeno aglomerado populacional.

Este local, inicialmente designado por Ponte da Pedra, irá mais tarde chamar-se Entroncamento. Na verdade, é aqui que se vai assistir ao entroncar do troço ferroviário até Soure, da linha do norte com a linha do leste, que deveria ligar Lisboa a Badajoz, a 22 de Maio de 1864 - ver ibidem, p.37. Assim, começando por se designar por Entroncamento da Ponte da Pedra, passará, por abreviatura natural, a denominar-se unicamente por Entroncamento.

Constatada a razão do aparecimento do Entroncamento com os caminhos-de-ferro, inevitavelmente o seu desenvolvimento e o seu progresso também a ele se irão dever. Temos, pois, de forma inequívoca, que concordar com o Prof. Luís Schwalbach que, já em 1946, dizia acerca da então vila que «raros serão os modelos que nos manifestem por uma forma tão decisiva a contribuição que pertence à linha férrea na origem e no progresso de uma localidade» – Luís Schwalbach, A geografia da circulação e os agregados humanos, Lisboa, 1946.

Logo em 1862 se construiu a primeira estação, uma pequena barraca, semelhante a qualquer das outras construídas em terras pouco povoadas associando-lhe um depósito de máquinas. No entanto, a necessidade de novas instalações justificava-se. Os passageiros, que aqui esperavam, precisavam de locais para descansar, as mercadorias de espaços para serem guardadas e os ferroviários de sítios para pernoitarem ou até habitarem.

Assim, pouco a pouco, apareceram 24 barracas de madeira de um lado e do outro da linha, em plena charneca, no local do atual edifício da estação. Ainda antes de 1882 são levantadas as primeiras 24 casas de pedra e argamassa, esboçando-se com elas a atual rua Latino Coelho - ver Maria Madalena Lopes, obra citada, pp. 37-44.

Obras de maior vulto não tardaram. Data de 1864 a construção de uma oficina de máquinas, e de 1879 o primeiro armazém de víveres para uso exclusivo dos ferroviários. A primeira escola, também ela destinada aos filhos dos ferroviários, foi edificada em 1882 na parte sul da linha, frente à antiga estação.

Em 1910 edifica-se a primeira casa da rua que se virá a chamar 5 de Outubro.

Também das primeiras décadas do século XX é a construção de vários bairros, outras escolas e oficinas, do segundo armazém de víveres, de uma central elétrica e de vários edifícios destinados às secções de tração, viação, via, obras e construção. Foram obras levadas a cabo pela Companhia dos Caminhos-de-Ferro Portugueses - sobre estas infraestruturas ver ibidem, pp. 47-49.

O seu aparecimento deveu-se à intensificação da viação por linha de ferro e à modernização e maior potência das locomotivas. Por outro lado, a população vai aumentando rapidamente, num curto espaço de tempo. Por exemplo, num período de 12 anos, entre 1932 e 1944, a população do Entroncamento cresce de 6000 para 8300 habitantes - Entroncamento, um pouco da sua história, in Terras de Portugal, ano XXVIII, n.°48 (465), Lisboa, Janeiro de 1956, p. 10.

Com o crescimento da estação e do número de habitantes tornou-se necessária a construção de diversos equipamentos diferentes, não só para o apoio logístico ao caminho-de-ferro, mas também para utilização por parte dos seus funcionários.

O primeiro bairro construído pela CP no Entroncamento, entre 1917 e 1919, foi o de Vila Verde, tendo sido ampliado mais tarde, em 1930. Inicialmente era constituído por cinco grupos de duas casas e 10 isoladas, facultando a habitação para 20 famílias. Em 1930, o bairro foi ampliado com três novos grupos de duas casas e com seis casas isoladas, possibilitando mais 12 habitações de quatro compartimentos e com um dormitório para 12 agentes solteiros do pessoal de via e obras da CP. Excluindo este último equipamento, Vila Verde era constituído por 32 habitações de diferentes dimensões e plantas - sobre este bairro ver Paula Gama do Rosário, Entroncamento. Do mito do progresso à realidade presente, Câmara Municipal do Entroncamento, 1995, pp. 38-39, e Mário Ferreira, O património ferroviário do Entroncamento, in 0 Entroncamento, 7 de Julho de 1994.

Em 1926 terminou a construção de um outro bairro para ferroviários - o bairro Camões - que teve como seus arquitetos Luís da Cunha e Cottinelli Telmo. Este bairro, o primeiro bairro-jardim de Portugal, pela disposição da sua planta se prestar a isso, vai apresentar características diferentes.

Ele pôde ser enriquecido com alguns elementos especiais: o chafariz (desmontado nos finais dos anos 70 e atualmente reinstalado junto ao viaduto Eugénio Dias Poitout), o lampião e os pilares da entrada, procurando-se, nestes últimos, imprimir um cunho nitidamente ferroviário, tomando o carril como motivo - sobre o bairro Camões, ver Paula Gama do Rosário, obra citada, pp. 39-43 e Mário Ferreira, obra citada.

A Escola Camões que, como o próprio nome indica, faz parte do bairro com o mesmo nome e é também uma obra dos arquitetos Luís da Cunha e Cottinelli Telmo, corresponde a uma construção de dimensões consideráveis. Concluída em 1932, foram nessa data as suas portas franqueadas aos filhos dos ferroviários em aulas diurnas, enquanto os próprios empregados frequentavam as aulas noturnas. Na segunda metade da década de 60 funcionava como Escola Técnica de Aprendizes das Oficinas da CP 14 - A Hora, Jornal Ilustrado, Ano XXXVI, 2.ª Série, n.°68, Novembro de 1968, número dedicado ao XXIII aniversário do concelho do Entroncamento. Atualmente ainda funciona neste edifício o CERE - Centro de Ensino e Recuperação do Entroncamento. Mas, para além destes edifícios, foram ainda construídos outros dois bairros: um na rua D. Afonso Henriques e outro na rua Latino Coelho, ambos edificados no ano de 1939.

Por outro lado, e anteriormente a 1930, já se haviam fixado no Entroncamento, com carácter permanente, os seguintes estabelecimentos militares: Batalhão de Sapadores do Caminho-de-Ferro (1918), Depósito Geral de Material de Guerra (1919), Sucursal da Manutenção Militar (1919), Oficinas do Parque Automóvel Militar (1919), 7 ° Grupo de Companhias de Administração Militar (1919) e a Estação Radiotelegráfica (1928) - Maria Madalena Lopes, obra citada, p. 48.

O rápido desenvolvimento registado por esta localidade começou a gerar na sua população a vontade de conseguir a autonomia administrativa. Foi o caminho-de-ferro que lhe deu vida e é ele que lhe aumenta a atividade e lhe modifica as condições económicas. O caminho-de-ferro teve repercussões diretas e imediatas nos aglomerados que serve, e muito especialmente, no caso do Entroncamento. Em 1900 começou-se a esboçar a crescente importância do caminho-de-ferro, assistindo-se a um desenvolvimento a nível nacional da rede ferroviária, o que vai ajudar o Entroncamento a tornar-se num dos maiores centros ferroviários do País. Na verdade, ele tornou-se na «maior e na mais movimentada gare do País» - A Companhia dos Caminhos-de-Ferro e o seu Entroncamento Ferroviário, in A Hora, Jornal lustrado, Ano XXXVI, 2.ª Série, n.°68, Lisboa, Novembro de 1968.

À medida que o aglomerado se desenvolvia e a população aumentava, aumentavam igualmente as aspirações de independência, pois o Entroncamento encontrava-se dividido em duas freguesias: a parte nascente da linha pertencia à Barquinha e a parte poente à freguesia de Santiago, concelho de Torres Novas.

Foi a 25 de Agosto de 1926, que o governo da ditadura concedeu a independência política e administrativa ao Entroncamento, elevando-o a sede de freguesia pelo Decreto n.°12 192, registando na época 800 habitantes que ficavam a pertencer a um só concelho, o da Barquinha. Uma das primeiras realizações da junta de freguesia, presidida por José Duarte Coelho, foi a construção, em 1930, de um mercado coberto, onde hoje funciona o centro cultural. Ainda devido à sua ação surgiram algumas escolas, o cemitério, o jardim-parque Dr. José Pereira Caldas, uma casa de proteção a indigentes e o antigo edifício da junta de freguesia - Paula Gomes do Rosário, obra citada, pp. 27-29.

A 21 de Dezembro de 1932 a freguesia do Entroncamento, que contava já com cerca de 6000 habitantes, foi elevada à categoria de vila, verificando-se 13 anos depois a elevação a sede de concelho.

De facto, pelo Decreto n.°35 134, de 24 de Novembro de 1945, e à custa de uma superfície terrestre outrora na dependência de Vila Nova da Barquinha, surgia o concelho do Entroncamento.

Entretanto, a vila continuava a crescer. Em 1940 foi inaugurada a Igreja Matriz, dedicada à Sagrada Família, pois até aí o culto religioso realizava-se na Capela das Vaginhas. Em 1955 foi concluído o bairro de casas económicas Dr. Oliveira Salazar, atual bairro da Liberdade. Neste mesmo ano estava em conclusão um outro bairro para as classes economicamente menos favorecidas. Tratava-se do bairro Eng.º José Frederico Ulrich, pertencente à Câmara Municipal. Ainda neste ano foi inaugurado o Hospital da Misericórdia do Entroncamento, ainda em funcionamento.

Na década de 60, por ação do então Presidente da Câmara Municipal, Eugénio Dias Poitout, foram construídos o segundo reservatório de água, o edifício para a GNR, o viaduto que mantém o nome do seu impulsionador e que ainda liga as duas «margens» da linha-férrea, dois sanitários públicos e estabeleceu um serviço diário de recolha de lixo, entre outras realizações. Em 1965 foi ainda fundada a biblioteca municipal e, por iniciativa particular, o Cineteatro São João, recentemente adquirido pela autarquia.

Ao nível das forças de segurança, a Polícia de Segurança Pública (PSP) foi instalada em Maio de 1935 e a Guarda Nacional Republicana (GNR) em Outubro de 1962. Esta última instituição de segurança foi recentemente retirada da freguesia.

Mais recentemente outras importantes edificações foram construídas. Na década de 80 a Câmara Municipal construiu alguns blocos de habitação e o novo edifício onde funciona atualmente a biblioteca municipal, a junta de freguesia e o tribunal. Em Maio de 1983 foi inaugurado um novo mercado diário. Também nesta época se procedeu à criação do Complexo do Bonito, na parte norte da freguesia, onde se localiza a piscina municipal, e está também prevista a construção do estádio municipal e de umas novas piscinas. Próximo deste local está em construção um pavilhão polidesportivo.

Com a brevidade possível foi assim que surgiu e se desenvolveu o concelho do Entroncamento, também cidade ribatejana, esse «filho dileto da CP», como já lhe chamaram - A Companhia dos Caminhos-de-Ferro e o seu Entroncamento ferroviário, in A Hora, Jornal Ilustrado, Ano XXXVI, 2.ª Série, n.°68, Lisboa, Novembro de 1968.

Neste contexto, há que destacar que a origem da atual cidade teve origem na parte sul da linha-férrea. Foi igualmente nesta área que o núcleo habitacional se desenvolveu, sobretudo nas primeiras décadas da sua existência. De tal forma que as populações identificam-na como a zona mais antiga, o «centro histórico», distinguindo-a da parte norte da freguesia com a designação da «zona nova», a mais recente. A separá-las encontra-se a linha-férrea.

 

Razões de ordem administrativa e geográfica

O concelho do Entroncamento faz administrativamente parte do distrito de Santarém e para efeito das NUTS, integra o conjunto de municípios do Vale do Tejo, na sub-região do Médio Tejo. Confina a norte e a poente com o concelho de Torres Novas, a sul com o concelho da Golegã e a nascente com o concelho de Vila Nova da Barquinha.

Em termos turísticos, incorpora a Região de Turismo dos Templários, Albufeiras e Floresta Central.

Presentemente, ao concelho do Entroncamento corresponde uma única freguesia, criada a 25 de Agosto de 1926, pelo Decreto n.°12 192, também com o mesmo nome. Tem uma área aproximada de 13,7 km2.

Esta única freguesia, com a mesma área e população, apresenta uma densidade populacional de 1680 hab/Km2 (Censos 2001). A freguesia do Entroncamento é, em número de habitantes, a maior do distrito de Santarém, de tal forma que as duas novas freguesias resultantes da divisão da atual ficarão no ranking das 10 maiores freguesias do distrito.

Trata-se de uma unidade administrativa com características fundamentalmente urbanas, dado que a maior parte da sua área territorial é ocupada pela própria cidade (10,7 Km2). Nesta única freguesia ainda existem alguns pequenos núcleos habitacionais isolados (população no concelho/freguesia corresponde a 18 173 residentes enquanto que a população identificada como residente na cidade é de 18 035), dado que a maioria deles já foi absorvida pelo crescimento da cidade, integrando assim a malha urbana.

A atual freguesia do Entroncamento encontra-se dividida geograficamente pela passagem da linha-férrea. Esta é uma realidade incontornável, pois até entre as populações se generalizaram as designações de «zona norte» e «zona sul», atendendo à localização das mesmas em relação àquela via de comunicação.

 Os caminhos-de-ferro estiveram na origem da cidade, mas as suas linhas também dividiram fisicamente as duas partes da freguesia. Aliás, desde cedo se sentiu a necessidade, fruto dessa separação, de unir as duas áreas. Em 1969 foi inaugurado o viaduto Eugénio Dias Poitout com o objetivo de facilitar a passagem de pessoas e viaturas entre as duas zonas da freguesia. Recentemente foram abertos à circulação dois túneis subterrâneos com o mesmo objetivo.

Enquanto noutros aglomerados urbanos são importantes as estradas nacionais ou as específicas características naturais - como os rios - para identificar a separação das freguesias, no Entroncamento são as linhas-férreas que delimitam claramente as duas partes da freguesia.

 Encontrando-se localizado no centro estratégico da região de Santarém, o Entroncamento constitui um ponto de intersecção fundamental, quer da rede viária quer da rede ferroviária. É atravessado pelo IP6 (futura autoestrada das Beiras), beneficiando consequentemente do acesso à A1 (a principal autoestrada do País) e, a prazo, com a construção do IC3 ficará com um acesso privilegiado aos concelhos vizinhos, da margem esquerda do Tejo e às novas pontes sobre o Tejo, em Santarém e Montijo.

Todavia, é fundamentalmente como nó ferroviário estratégico que, no contexto nacional, a localização do Entroncamento é ímpar. Atravessado pela linha do norte, que estabelece a ligação com Lisboa e Porto, é também aqui que têm início o ramal de Tomar e as linhas do Leste e da Beira Baixa com ligação ao interior do País e a Espanha.

Uma importante rede de transportes coletivos rodoviários nomeadamente através da Rodoviária do Tejo, asseguram igualmente boas acessibilidades ao/do Entroncamento.

Razões de ordem demográfica

O concelho do Entroncamento tem, desde a sua origem, apresentado um crescimento demográfico bastante significativo. Na última década a sua população cresceu 27%, tendo tido o sétimo crescimento percentual mais elevado a nível nacional e o maior entre os concelhos que não pertencem à faixa litoral do País - Notícias do Entroncamento n.°904, de 20 de Julho de 2001, p. 8.

De acordo com os Censos de 2001, a. população residente era de 18 173 habitantes, o que representa um crescimento de cerca de 27% comparativamente a 1991, bastante superior aos 5,5% verificados no distrito de Santarém ou aos 5% registados no País. Cerca de metade desta população reside na área do concelho a norte das linhas-férreas, isto é, a área que propomos para a base territorial da nova freguesia.

A tendência de crescimento populacional tem sido constante em todo o concelho. Todavia, este rápido crescimento acarreta consigo maiores responsabilidades para os agentes autárquicos, confrontados com os legítimos anseios e expectativas das populações, para a melhoria da sua qualidade de vida, com um desenvolvimento mais equilibrado e concertado naquela parte da cidade.

Razões de ordem económica

Todo o concelho do Entroncamento apresenta uma grande vitalidade económica. Esta cidade é, por excelência, uma cidade de serviços. Esta realidade é reconhecida principalmente na região setentrional do distrito de Santarém. Aqui se concentram inúmeros estabelecimentos comerciais, vários outros de natureza industrial e ainda uma significativa gama de profissões liberais.

Economicamente, o concelho e a cidade do Entroncamento coincidem territorialmente num pólo urbano que nasceu e cresceu à volta de uma importante estação de comboios, mas que, ao longo dos anos, tem sabido alargar e diversificar a sua base de sustentação económica, com mais de 300 empresas sedeadas no concelho, gerando emprego e riqueza.

 O Entroncamento é claramente uma realidade multifacetada e dinâmica que, em termos gerais, apresenta os seguintes traços de caracterização:

 • Cidade essencialmente urbana e comercial, importante ponto de atração sub-regional, onde nos últimos 15 anos, o número de empresas cresceu a um ritmo de 1,7% ao ano, enquanto que esse crescimento foi de apenas 1% ao nível distrital, comprovando a capacidade de atração;

 • Cidade ferroviária, mantendo a sua ligação umbilical, ao caminho-de-ferro e à sua importância como entroncamento de passageiros e mercadorias;

 • Cidade militar, pela manutenção de importantes instalações no centro da cidade;

• Cidade formação, oferecendo uma boa diversidade de opções formativas;

• Cidade retaguarda da Área Metropolitana de Lisboa, dadas as melhorias significativas verificadas no conjunto de acessibilidades ferroviárias, que colocam o Entroncamento a menos de uma hora de Lisboa;

• Cidade que apresenta elevados índices de consumo e de poder de compra, respetivamente, de 106,5 e 125,5, enquanto ao nível do distrito esses índices apresentam 67,4 e 72,2 respetivamente (base nacional 100);

• Cidade onde o rendimento coletável em sede de IRS é de cerca de 670 contos contra apenas cerca de 348 contos ao nível distrital.

Na parte norte do concelho - aquela para onde se prevê a nova freguesia -, funcionam numerosas empresas dos mais variados sectores da atividade económica. Aqui está localizada a Zona Industrial do Entroncamento, onde funcionam estabelecimentos industriais, mas também muitos comerciais. Aí podemos encontrar as indústrias de alumínios, de metalomecânica, de mármores e de serralharia e o comércio de móveis e outros variados produtos, para citar apenas alguns casos.

Para além disto, encontram-se dispersos por toda esta zona da cidade, numerosos estabelecimentos capazes de responder às necessidades básicas dos seus residentes, designadamente, os serviços de uma farmácia, de uma agência bancária, de diversos supermercados e de muitos estabelecimentos do ramo da restauração.

 

Razões de ordem social e cultural

A formação histórica do Entroncamento acabou por condicionar a sua própria composição social. Como escreveu a professora e antropóloga Paula Gama do Rosário, «as pessoas que nasceram no núcleo inicial - o lugar das Vaginhas - ou que são descendentes diretos desses indivíduos sentem-se, obviamente, mais entroncamentenses que os demais» - Paula Gama do Rosário, obra citada, p. 98.20.

Na parte sul da cidade fixaram-se as populações, iniciais do núcleo urbano e formaram-se núcleos de indivíduos provenientes principalmente do Alentejo. Para a zona norte acabaram por convergir indivíduos provenientes das mais variadas zonas do País, acentuando-se esta diferença com o evoluir do tempo, uma vez que aquela era a zona de expansão por excelência - ibidem, p.99.

Esta tendência ainda hoje se mantém. A maioria daqueles que procuram o Entroncamento para residência acaba por se fixar na parte norte da cidade, continuando aquela antiga tendência. Ou seja, é ali que se localiza a maioria daqueles que há menos tempo residem no Entroncamento.

No que diz respeito à educação, os estabelecimentos escolares que existem no Entroncamento ministram os diversos níveis de ensino, desde o pré-escolar ao superior. A rede escolar é constituída por 11 estabelecimentos do ensino básico, uma escola secundária, duas escolas profissionais e um instituto do ensino superior privado que ministra cursos na área dos transportes.

Na parte norte da cidade, funciona a Escola EB 3 e a Secundária do Entroncamento, estando também prevista a construção de uma nova escola EB 1,2,3. Também ali existe o Centro de Línguas do Entroncamento, importante estrutura de ensino para toda a população.

Relativamente à saúde, o município é igualmente servido por um hospital com 60 camas, por um centro de saúde e três farmácias. O concelho do Entroncamento apresenta um ratio de 1,8 médicos por mil habitantes, claramente superior ao 1,4 do distrito de Santarém.

No norte do município existem algumas estruturas importantes. É aqui que se encontra o Centro de Saúde do Entroncamento e é também aqui que se concentram alguns equipamentos sociais de apoio à terceira idade, designadamente o Lar Fernando Eiró e o Lar dos Ferroviários. Para apoio a deficientes existe o CERE (Centro de Ensino e Recuperação do Entroncamento).

Ainda no domínio das infraestruturas e dos equipamentos sociais, importa referir que a totalidade da população do Entroncamento está servida por água canalizada, rede de esgotos e por sistema de recolha de resíduos sólidos e urbanos. É também adequadamente servida por um serviço de táxis e correios.

Possui igualmente várias infraestruturas desportivas, culturais e de lazer, com destaque para a existência de um parque de campismo, de uma unidade hoteleira e de várias pensões. Ao nível associativo importa mencionar o funcionamento da prestigiada Associação Filarmónica do Entroncamento, cuja sede se encontra domiciliada no antigo edifício da proteção a indigentes.

…”


Nota: Este texto foi extraído do PROJECTO DE LEI N.º 184/IX, e consiste num trabalho realizado para fundamentar a consistência do pedido que, em 2002, este projeto apresenta, consubstanciar a criação de uma segunda freguesia no Entroncamento, na parte norte, cujo nome foi escolhido por consulta à população. O nome escolhido foi “Freguesia de N.ª Senhora de Fátima”. Esta pretensão política, apresentada pelos deputados do PSD e do CDS, veio a ter a sua aprovação na Lei 68/2003, com entrada em vigor em 1 de janeiro de 2004. Assinou-a o Presidente da República Jorge Sampaio.