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Fonte do Ferro

 

POR MARIA DO ROSÁRIO BATISTA*

 

Fontes da nossa terra

Fontes que eu conheci

Na caminhada da vida

Nas suas águas bebi

 

Quando ia lavar a ribeira

Aquelas ladeiras descia

Bebia na Fonte das Caldeiras

Na Raposeira, bebia na Fonte Fria

A primeira que conheci

Foi a que primeiro secou

A bela Fonte da Venda

Que saudades me deixou

 

Agora subo a encosta

Que me cansa o coração

Depois começo a descer

Até a Fonte do Meirão

Com o fim da sua vida

Quando ela veio a secar

Fui pedir a Fonte do Ferro

Se tinha água para me dar      

 

Fica bem la no fundo

Onde não se avista nada

Tem por vizinha a ribeira

E uma grande levada

Durante alguns anos

A água la fui buscar

Também algumas vezes

A ajudei a limpar

Com o cântaro a cabeça

Subia a ladeira agreste

Onde eu ia buscar água

Quando andava na mestra

 

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Fonte da Cré

 

Continuo a caminhar

Por caminhos de cabrela

Chego ao Caminho dos Pintos       

E à Fonte da Badanela

 

Atravesso matagais

Por caminhos e carreiros

E já um pouco cansada

Vou à Fonte dos Pinheiros

Volto-me para o nascente

Caminhando sempre a pé

Por entre pinhais verdes

Vou até á Fonte da Cré

 

Visito a Senhora dos Matos

Ali escrevo algumas letras

E retomando o meu caminho

Vou à Fonte das Casas Pretas

Fonte bem conhecida

De água pura e cristalina

Com o ar puro dos pinheiros

Subo aquela colina

 

Agora já vou descendo

Mas já sinto a canseira

Ali bem junto à entrada

Vou à Fonte da Ladeira

 

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Fonte da Ladeira

 

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Fonte dos Amores

 

Continuo a caminhar

Por onde o destino me conduz    

E bem lá dentro do vale

Vou à Fonte de Santa Cruz

 

Agora caminho a direito

Já não procuro carreiros

Vou encontrar a estrada

E a Fonte dos Carvalheiros

Isolada e sozinha

Onde não há barulho

Uma fonte pequenina

É a Fonte de Mergulho

 

Nesta dura caminhada

De canseiras e labores

Chego ao Casal Soares

À bela Fonte dos Amores

Vou continuar a subir

Cada vez com mais canseiras      

Mas ainda vou beber água

A Fonte das Sentieiras

 

Fonte simples e singela

O seu feitio tem graça

Da sua água pura e bela

Dá de beber a quem passa

Continuando a caminhar

Por entre cabeços e covas

Até que vou encontrar

A Fonte das Casas Novas

 

Estas fontes conheci

Quando eu as procurava

Das suas águas bebi

Quando no campo trabalhava

Mas não fico por aqui

Ainda bebi em mais

Vou à Fonte dos Moleiros

Que fica nos Morcegais

 

A caminhada que vivi

Pouco a pouco vai acabando

As fontes que conheci

Pouco a pouco vão secando

 

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Fonte das Casas Novas

* Natural de Mouriscas (Lameira da Rainha), onde ainda reside atualmente, já tendo ultrapassado os 80 anos. Em criança, fez a 3ª classe e começou a trabalhar, quase sempre no campo.

A partir dos setenta anos quando as forças lhe começaram a faltar e a solidão apertou, começou a escrever quadras sobre aquilo que mais a marcou.

 

IN: BATISTA, Maria do Rosário – Fontes de Mouriscas. Zahara. Abrantes: Centro de Estudos de História Local. ISSN 1645-6149. Ano 6. Nº 12 (2008), p. 81-83