História das águas em Mação
Em Outubro de 1938 na revista “Terras do Tejo” era publicada uma reportagem intitulada “História das águas em Mação”. Dizia a reportagem que:
“De todas as obras já realizadas, a mais importante e de mais transcendente valor sob o ponto de vista higiénico e de comodidade para a população é, sem dúvida, a do abastecimento de águas à vila. Foi arrojada esta empresa pois bastará dizer que a sua realização foi orçada em 600 contos, o que, para uma terra pobre como a nossa, é alguma coisa de arrepiante!”
A referida obra era o tanque de abastecimento, o primeiro do Concelho que foi construído com o apoio do Estado (Novo).
Continuava o artigo:
“Mação, desde tempos remotos até ao último quartel do século findo sofreu grandes inclemências pela falta de água para as suas necessidades tanto potável como para usos domésticos e industriais.
Até àquele tempo o povo só tinha para se abastecer de águas potáveis a Fonte da Mantela e a Fonte Longe, e para usos domésticos e industriais a Fonte Velha situada entre montureiras na rua deste nome, a Fonte Borrega, também situada entre pocilgas e esterqueiras nas traseiras da rua de cimo da Vila; a Fonte do Mártir, por detrás da Capela de S. Sebastião; a Fonte Limpa (pouco limpa, por sinal) e o Poço da Santa, charco que existia por detrás da Cavalariça da casa Rebelo, na Rua Nova, que eram todas elas, verdadeiros focos de infecção, pois que, à excepção da Fonte Longe todas tinham a forma de poços, onde se enchiam os cântaros de mergulho e onde se acumulavam detritos prejudiciais à saúde.
Mas todas estas nascentes quase se secavam na estação calmosa vendo-se então os maçaenses na necessidade de mendigar aos proprietários a água das suas propriedades, algumas delas em sítios bastante distantes da vila, como no Vale Longe, do Padre Palmeiro, no Vale de Maria, do capitão Matos, no Vale da Baixieira, de Francisco de Matos Roseiro, sendo Manuel Gueifão Belo quem mais água dava ao povo, do nascente do seu tanque, na Horta, junto à vila.
Em 1869, Manuel Gueifão Belo, prestigioso chefe político do concelho e seu administrador em dezenas de anos, sugeriu à Câmara a ideia de se construir um chafariz no sítio da Fonte Forno, expropriando-se para isso a água da nascente da propriedade de um particular. A Câmara assim deliberou (…).
A obra fez-se e o povo de Mação tinha mais uma fonte para se abastecer de água potável.
Em 1875 António Eugénio Belo Neto, sendo presidente da Câmara, concebeu a ideia de explorar água para o povo dentro da vila. Com a obra que conseguiram fazer, nomeadamente pela escavação de uma mina cuja nascente foi “encanada” para a Fonte Limpa “donde o povo se abastecei para usos domésticos e industriais”.
Com o aumento crescente de população e desenvolvimento das indústrias, Mação continuava no verão a padecer de falta de águas; por isso António Eugénio Belo Neto e seu irmão Hermenegildo A. Belo Neto, chefes políticos do Concelho conceberam o projecto de explorar águas para abastecer a Vila, no sítio das Chãs.
Em 1895 conseguiram escavar uma mina que se prolongou para os lados do Cabeço do Vale de Mação e conseguiu-se um caudal de água potável magnífica, para abastecimento da Vila.
Tendo a Câmara conseguido suportar as obras de escavação da mina o mesmo já não acontecia em relação à aquisição de tubagem para trazer a água para a Vila. Os Belos pediram ajuda ao estado mas o “tesouro público estava exausto e nada poude fornecer”.
O Deputado Avelar machado conseguir, no entanto, que o Governo fornecesse à Câmara de Mação, para abastecimento de águas, os metros de madeira do Pinhal de Leiria suficientes para pagar a obra. Com a importância recebida pela venda da madeira a Câmara conseguiu pagar a tubagem.
Concluída a tubagem e construído o chafariz na Praça, fez-se a inauguração em 1896 “com ruidosas e bem justificadas festas populares, que deram brado”.
Nota: Foi dado à Praça o nome de António Eugénio Belo Neto. Após a proclamação da República passou a chamar-se Praça da República e hoje é a Praça Gago Coutinho.
Mais tarde, quando Abílio Belo Tavares foi presidente da Câmara conseguiu trazer para o Outeiro do Calvário a água do Bando do Pereiro, “abundantíssimo caudal de puríssima água que Mação fica gosando!”
In: “Terras do Tejo”, Outubro de 1938