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José Manuel d'Oliveira Vieira - Sargento Mor de Infantaria na reserva.

Pelas injustiças feitas aos que na Grande Guerra combateram, especialmente aos mutilados e estropiados, e ainda ao desprezo a que eram votados pelos poderes constituídos, os quais não só não tomavam na devida conta, mas até, propositadamente, esqueciam as reclamações de muitos, que após haverem cumprido o seu dever, cumprindo com o juramento que antes haviam feito de darem o seu sangue pela pátria, se viam abandonados e na miséria, foi organizada em 1921 pelos senhores João Jaime de Faria Afonso, segundo sargento miliciano licenciado, Horácio de Faria Pereira, segundo tenente da marinha e Joaquim de Figueiredo Ministro, tenente reformado de artilharia de campanha, todos ex-combatentes, uma Comissão Organizadora que levou à fundação da Liga dos Combatentes em 1923.

Assim, perante os factos, são publicadas no mesmo ano, duas leis destinadas aos combatentes, para serem difundidas pelo país, de forma a que todos os heroicos soldados mutilados e inválidos que combateram em França e África lhes possa ser fornecido o cartão de identidade para terem direito a reforma do Estado.

Para prestar todos os esclarecimentos aos combatentes, viúvas e órfãos, o Tenente de Infantaria, António Falcão, da Sub-Agência da Liga dos Combatentes de Abrantes, fornece os boletins de inscrição. (JA 1236 de 06ABR1924)

Funcionando em casa do Secretário da Sub-Agência de Abrantes, Sr. José Rijo Rosado Salgueiro ou no R.I. Nº 2, a Sede da Sub-Agência aparece situada na Rua Actor Taborda, no D.R.R. N° 2 (Distrito de Recrutamento e Reserva N° 2), em parte do antigo Convento da Esperança, a 14 de abril de 1929. (JA 1492 de 21 abril 1929).

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Toda a documentação que possa ter existido foi, após 25 de Abril de 1974, vandalizada, tendo desaparecido todo o seu acervo.

O único livro existente em Abrantes é de 31 de janeiro de 1936 e nele consta, no seu termo de abertura, ter sido presidente da Sub-Agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra o Sócio n° 136, Capitão Carlos António Casaca, residente em Abrantes.

Em 1980, por iniciativa dos combatentes Joaquim de Matos Guedelha, José Antunes Ferreira, Augusto de Moura Stoffel e Augusto Oliveira Tanqueiro, dá-se a reativação da Sub-Agência da Liga dos Combatentes de Abrantes, passando a funcionar na Rua do Arcediago n° 16, local onde hoje se encontra, em edifício cedido gratuitamente pela Câmara Municipal de Abrantes.

Fundação da Sub-Agência da L.C.GG de Abrantes (29 de setembro de 1923)

Aparecendo no Jornal de Abrantes n° 1236 de 06 de abril de 1924, pela primeira vez o nome de Sub-Agência e as diretivas para comemorar o 09 de Abril serem difundidas pelo Coronel de Artilharia Nicolau Tolentino Homem Teles, Comandante do Regimento de Artilharia n° 8 e comandante militar da cidade de Abrantes, tudo levava a crer ter a mesma sido fundada em data anterior. Efetivamente assim foi. A comissão organizadora da futura Liga dos C.G.G., que reuniu pela última vez no dia 09 de outubro de 1923 pelas 21 horas, decidiu entregar nessa data a gerência da Liga a uma Direção, com estatutos aprovados desde 29 de Setembro de 1923, deixando assim constituídas 14 Agências, 8 Sub-Agências e 53 Delegações. Abrantes encontrava-se nas 8 Sub-Agências constituídas e o Sr. Tiago Dias do Nascimento, o seu primeiro Presidente. (Acta n° 1 da Liga dos Combatentes da Grande Guerra - Lisboa).

A bandeira da Liga dos Combatentes de Abrantes

A data de 09 de abril sempre foi e continuará a ser um dia de grande significado para todos os combatentes e portugueses em geral. O ano de 1932 revestiu-se de um significado especial para a Sub-Agência de Abrantes. As cerimónias deste dia e ano tiveram especial relevância com a entrega do estandarte à Sub-Agência, pelo Sr. Capitão Avelar Machado, como representante do Sr. comandante militar, cerimónia essa que foi sublinhada com a apresentação de armas pelas forças presentes.

O estandarte foi confiado ao combatente Sr. António Saco, de Belver que 0 conduziu no cortejo ao Cemitério. (J.A. 1648 de 17ABRIl 1932).

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A história da bandeira dos Combatentes não ficaria completa se não soubéssemos que a mesma foi confecionada em Abrantes. O Jornal de Abrantes, em 17 de abril de 1932 noticiava assim: “A Bandeira dos Combatentes - Tivemos, há dias, ocasião de apreciar o estandarte da Sub- Agência d’Abrantes da L. C. G. G. e não foi sem grande regosijo que verificámos que o trabalho da Sra. D. Guiomar Pombo Fernandes é um trabalho soberbo, dada a mestria e delicadeza que esta senhora pôs no mesmo.

Temos visto vários estandartes e bandeiras bordadas em Lisboa e noutras terras do país, onde a arte feninil está mais adiantada, e, permita-no-lo a modéstia da Sra. D. Guiomar Pombo pôs na manufatura de todo este trabalho, e, sobre tudo, nos castelos e quinas do escudo nacional do referido estandarte, revelam bem a arte e o bom gosto de que a mesma senhora é dotada.

O facto deste estandarte ter sido feito em Abrantes, muito honra a nossa terra e muito particularmente a Sra. “D. Guiomar Pombo Fernandes.”

Como peça de inestimável valor que é para o Núcleo e para Abrantes, seria interessante expôlo na nossa Sede. Porém, após diligências efetuadas conclui-se estar o referido estandarte no Museu do Combatente (Sede da Direção Central, em Lisboa). De qualquer forma fica a homenagem à D. Guiomar Pombo, à C.M. A. e à população de Abrantes por terem contribuído monetariamente para a sua feitura.

Atualmente o Núcleo de Abrantes possui um guião uniformizado de acordo com a localidade do Núcleo.

Monumento aos mortos da Grande Guerra 1914/1918

O arranque para a construção de um monumento aos mortos deste concelho deu-se em 1925, pela mão de um grupo de sargentos da guarnição da Cidade de Abrantes, que resolveram tomar a iniciativa. Para tal, realizaram festejos nos dias 4,5 e 6 de setembro, próximo do Castelo de Abrantes, tendo o patrocínio da C.M.A. e de algumas freguesias do concelho. (J.A. 1300/1 de 16/23 agosto 1925).

Pela “Cronologia de Abrantes no Século XX”, de Eduardo Campos, sabe-se que em 20 de setembro de 1928, um Despacho do ministro da Guerra, coronel Júlio Ernesto de Morais Sarmento, autoriza a Câmara Municipal de Abrantes a erigir um monumento aos mortos da Grande Guerra, não no local onde hoje se encontra, mas sim no Outeiro de S. Pedro, tendo, em 22 de novembro do mesmo ano, iniciado os trabalhos de limpeza das muralhas do forte de S. Pedro.

Para execução do projeto é convidado o arquiteto Francisco Lopes Nogueira.

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A 11 de novembro de 1930, chegam a Abrantes as figuras do monumento aos mortos da G.G. que são depositadas no quartel dos bombeiros e, posteriormente, no antigo Convento da Esperança (D.R.R. n° 2).

Em 23 de Maio de 1939, o Comandante Militar de Abrantes, coronel José Garcia Matos Godinho, entrega à C.M. A. as figuras simbólicas do monumento aos mortos da Grande Guerra. No mesmo ano, a 10 de julho, a C.M. A. delibera construir (no local onde hoje de encontra) o monumento aos mortos da G.G. na Praça da República, abandonando o projeto da sua construção no Outeiro de S. Pedro. No mesmo dia o ministro interino da Guerra, Dr. António Oliveira Salazar, autoriza a construir no Outeiro de S. Pedro um monumento ao condestável D. Nuno Álvares Pereira, em vez do monumento aos mortos da G.G... O monumento começou a ser construído a 16 de outubro de 1939 e é inaugurado a 04 de junho de 1940.

Memoriais aos mortos da G.G. (1914/1918) e ultramar

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No antigo Convento de S. Domingos, onde em tempos esteve aquartelado o R.1.2, hoje propriedade da C.M.A., encontra-se colocado em lugar nobre no seu átrio, um memorial aos mortos da Grande Guerra

Como herdeiro das tradições castrenses, e das instalações que ocupou em Abrantes, o Regimento de Infantaria N° 2 tem à entrada do Quartel, dois monumentos de evocação a todos os combatentes. Um memorial aos mortos da G.G. 1914/1918 (cópia em bronze, do que se encontra no Convento de S Domingos), bem como uma estátua dedicada ao envolvimento que o Regimento teve nas guerras Peninsulares, na GG. em França (Neuve-Chapelle) e a todos os combatentes do ultramar.

Monumento ao Dr. Augusto da Silva Martins

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A única estátua no Concelho de Abrantes que faz referência a um Combatente da Grande Guerra encontra-se no Jardim do Castelo. Foi seu escultor José Simões de Almeida (sobrinho). Inaugurada a 16 de abril de 1939, pelo Ministro das Obras Públicas e Comunicações,

Eng.° Duarte Pacheco. O monumento retrata o Dr. Augusto da Silva Martins, ilustre e eminente médico cirurgião, campeão internacional de tiro, nascido nesta Cidade no dia 04 de abril de 1892. Na base da estátua encontra-se colocada, por um grupo de amigos da “Sociedade de Tiro N° 2 de Lisboa” (antigo Grupo Pátria), uma placa com a seguinte inscrição: “AO DR ANTÓNIO MARTINS - a - S.T. 2 “GRUPO PÁTRIA” - (3-9-1893/1943)”.

Iniciativas - Atividades

A 09 de abril e a 11 de novembro, a população de Abrantes é convidada a assistir às cerimónias em que o R.I. N° 2, em colaboração com o Núcleo, comemora com honras militares o ato heroico praticado pela Divisão Portuguesa do C.E.P. (Corpo Expedicionário Português) na Batalha de La Lys (1918) e o dia do Armistício, junto ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra.

Se hoje em dia as comemorações do dia 9 de abril são sentidas por toda a comunidade, em 1923 este dia excedia todas as expectativas. Junto do coreto então existente na Praça da República (local onde hoje se encontra a estátua dedicada à GG), comparecia todo o povo de Abrantes e as forças da Guarnição perfilavam no sentido do Mosteiro da Batalha, prestando assim homenagem aos soldados portugueses que heroicamente morreram.

No Cemitério Municipal de Abrantes - Talhão do Combatente - no dia de Finados, 2 de novembro, é prestada Homenagem a todos que tombaram pela Pátria. Antes da cerimónia da deposição de flores, pelas forças mais representativas da Cidade, é feita pelo Capelão urna alusão aos militares sepultados nos cemitérios do Concelho. As honras militares são precedidas do toque de silêncio, toque de homenagem aos mortos e toque de alvorada. Este é um dos maiores e mais sentidos eventos a que a população de Abrantes se associa aos militares, desde o fim das hostilidades.

Não estando ainda institucionalizado o dia do Núcleo, bom seria que a futura direção eleita para o triénio 2005/2007, defina o dia 29 de Setembro, uma vez que foi este o dia da sua constituição no ano de 1923, juntamente com mais oito Sub-Agências, na Rua de São Paulo, N° 26 - Io Andar, em Lisboa, onde foi manuscrita a Acta n° 1 da L.C.G.G.

O Núcleo dos Combatentes da Grande Guerra de Abrantes, fundado no ano de 1923, teve como primeira missão a mesma que ainda hoje se mantém. O Tenente António Falcão, do Regimento de Infantaria N° 2, um dos fundadores dizia assim em 1924: “A caridade é a mais sublime das virtudes humanas. Socorrer os que necessitam é um dever para todos aqueles que sentem.

Porque não havemos todos de trabalhar unificadamente, n'um esforço dedicado, constante, para aliviar a tristeza dos que sofrem? As ideias elevadas e puras baseadas na prática do bem, ainda encontram vibração nas almas que se elevam sobre a maldade e a corrupção”. (J.A.1246 de 13JULI924)

Apesar de tudo o que se tem feito, as críticas dos associados centram-se na inexistência de relações com o poder local, em prejuízo de um todo. A inércia e dinamismo sentido na Sede da Liga apenas é verdadeira devido à ausência dos sócios para assumirem a direção, administração e condução do Núcleo, de acordo com os Estatutos da Liga dos Combatentes.

Maquetas - Monumentos

Em 1929, foi apresentado em Abrantes o anteprojeto do primeiro monumento ao Mortos da Grande Guerra, a ser erigido no Outeiro de S. Pedro.

“O monumento assentaria numa base de 64 metros quadrados e teria 20 metros de altura, encimado por uma esfera armilar, em cristal, com um metro de diâmetro, que à noite seria iluminado com um foco elétrico de grande intensidade.

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A base seria de granito rosa e coluna em granito escuro, tanto um como outro da região e que se encontra em abundância desde o Cabeço do Caneiro ao Tramagal. As figuras seriam de cimento armado, com um preparado que lhes daria a aparência de bronze.” (JÁ 1497 de 26 maio 1929)

Pelo seu elevado valor não foi possível executá-la.

Não tendo sido esta a obra escolhida, ficou, porém, a maqueta no AHCA (Arquivo Histórico do Concelho de Abrantes).

O novo anteprojeto foi mais simples, mais barato e possível de concretizar. O monumento encontra-se na Praça da República e a maqueta no AHCA.

A grandiosa obra dos artistas Ruy Roque Gameiro, escultor, e Francisco Nogueira e E. Korrodi, arquitetos, foi classificado como o primeiro do nosso País, excetuando o que se encontra na Av. da Liberdade em Lisboa. O Diário de Lisboa na época, incumbiu o seu redator especializado na crítica de artes plásticas de fazer um artigo para o jornal, onde escreveu o seguinte: “Trata-se de uma obra notável, como simbolismo, como construção e como técnica. Ruy Roque Gameiro, aproximando-se da maneira de Bourdelle - gigantesca, planos simples, formas expressivas - interpretou em três figuras a ideia do monumento. A Pátria, altiva, fortíssima, de pupilas serenas e indómitas, invencível de energia, ao nível da estatuária grega, coroando, com a mão esquerda, um gladiador, meio ajoelhado e torcido a seus pés, apoiando-se a um escudo e brandindo uma espada curta. Esta figura, colocada, ao lado esquerdo da Pátria, é talvez, a do herói que não se rende, que mesmo na morte, luta ainda, coroando assim a vitória com sacrifício da vida. Do outro lado, á direita da Pátria, um soldado encostado a ela, mascarado para os gazes, quase um fantasma, que marcha em frente, numa linha reta para o inimigo, despejando os tiros da espingarda.

A conceção de Ruy Roque Gameiro é extraordinária. Tem volumes sobre-humanos, imponência indestrutível, grandeza ciclópica. É propositadamente rude, exagerada de volumes, sóbria como o exige o material onde foi esculpida: o cimento que endurece rápido, e só os grandes cinzéis podem trabalhar”, (J.A. 1572 de 02 NOV 1930)

Sócios Benemérito e de Honra

Devido à Cruzada de bem fazer, dando espetáculos de beneficência de toda a ordem, a favor das viúvas e órfãos dos Combatentes, a direção da Sub-Agência de Abrantes conferiu em 1933 ao já extinto Grémio de Instrução Musical de Abrantes o diploma de “Sócio Benemérito”.

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Também na mesma data, devido aos serviços prestados que consistiam em consultas e tratamentos clínicos gratuitos, operações cirúrgicas gratuitas ou com insignificante remuneração, pagamento de medicamentos, fornecimento de leite e outros géneros aos mais necessitados, resolveu a direcção conferir ao já falecido Dr. João José Alves Mineiro, do Tramagal, o diploma de “Sócio Benemérito”.

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Igualmente, pela notável arte que cultiva, pela propaganda que desenvolve em prol da nossa terra, promovendo numerosos espetáculos anualmente a favor da Liga dos Combatentes, ao Orfeão de Abrantes, instituição fundada em 1929, é conferido em 06 de Novembro de 1933 o diploma de “Sócio Benemérito De acordo com o Estatuto - Regulamento Geral e Funcionamento da Liga dos Combatentes, está isento de pagamento de quotas e quaisquer outros encargos, podendo no entanto prestar contribuições à Liga. Como sócio Benemérito pessoa coletiva pode exercer o seu direito de representação e de reclamação, através dum seu membro ou mandatário para cada caso devidamente credenciado.

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Em 04 de Dezembro de 1933, a Direção da Sub-Agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra de Abrantes propôs, à Junta Central, que os benefícios recebidos do Município de Abrantes, entre os quais avulta a cedência no cemitério da cidade de um talhão para as sepulturas dos combatentes falecidos, a contribuição de 500S00 para auxílio do estandarte e o fornecimento gratuito de energia elétrica e de piquetes de bombeiros para os diversos espetáculos realizados em beneficio do seu cofre de pensões, concedesse à Câmara Municipal de Abrantes o “Diploma de Sócio de Honra”. o que veio a acontecer em 20 de Janeiro de 1934.

Nomes de ruas e largos dedicados aos C.G.G. no Concelho de Abrantes

O entusiasmo e solidariedade do povo do Concelho de Abrantes e limítrofes para com os combatentes da Grande Guerra, levou a Sub-Agência de Abrantes a solicitar que as Juntas de Freguesia atribuíssem na sua localidade o nome de “Rua dos Combatentes da Grande Guerra”. (J.A. 1542 de 06 ABR 1930)

Em 1932, a gerência da Liga do ano de 1930 faz sair um comunicado onde em tom crítico diz: “Poucas foram as Juntas que deram a sua adesão a essa manifestação de respeito pela memória dos seus conterrâneos que tombaram no campo de honra. Seria interessante e da maior oportunidade que as restantes Juntas de freguesia conseguissem, para a aldeia, sua sede, indispensável autorização, de forma a que, no próximo aniversário do armistício, dia 11 de novembro, em qualquer das suas ruas fossem inauguradas as respetivas placas toponímicas. Tendo assim lugar a prestação duma tão justa homenagem”. (J.A. 1673 de 09 Out 1932)

Abrantes - A única referência a uma rua de Abrantes, dedicada ao C.G.G., que aparece no livro Toponímia Abrantina diz o seguinte: “em sessão de 14 de Outubro de 1926 foi presente à Câmara Municipal de Abrantes um requerimento da direção-geral da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, no qual era solicitado que a uma das ruas de Abrantes fosse atribuída a designação de Combatentes da Grande Guerra, tendo a Câmara deliberado dar conhecimento do requerimento à comissão incumbida de estudar a nova nomenclatura das ruas da cidade, sendo satisfeito o pedido em 11 de maio do ano seguinte”.

Porém, segundo Eduardo Campos, numa carta que me endereçou em 24 de outubro de 2003, informa da decisão da C.M. A. ter sido tomada em 25 de Março de 1996, quarenta anos depois. A ser assim, tal decisão pecou por tardia, quando em 1928, o Jornal de Abrantes 1427, de 22 de Janeiro, animado pelo espírito crítico que reinava na época dizia o seguinte: “Na avenida Defensores Chaves que a Câmara deveria ter chamado Avenida dos Combatentes da Grande Guerra e a que o publico continua a chamar Avenida das Primas, estão-se abrindo duas ruas que vão dar ao mercado.

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Tramagal - Não havendo uma certeza absoluta do dia da sua inauguração, a Direção da Liga de Abrantes tomou conhecimento no mês de janeiro de 1934, de que a Câmara Municipal de Abrantes decidiu dar o nome de Largo dos Combatentes da Grande Guerra, ao Largo conhecido pelo povo do “Ribeiro Seco” no Tramagal. Do facto resolveu a Direção agradecer à C.M.A.

Rio de Moinhos - Sensibilizadas com o pedido da Sub-Agência de Abrantes da L.C.G.G., a Junta de Freguesia de Rio de Moinhos solicitou autorização, em 1930, para dar o nome de Rua dos Combatentes da Grande Guerra a uma das suas ruas.

Como curiosidade refira-se que esta rua ostenta placas (recentes) em ambos os extremos da mesma com a designação de “Rua dos Combatentes” e aparece na lista do Código Postal como Rua dos Combatentes da Grande Guerra, o que efetivamente é.

Pego - Também esta Freguesia possui uma Rua dedicada ao C.G.G. Durante o levantamento da existência real das ruas em questão, verificou-se que devido à recuperação das casas antigas, as placas toponímicas foram retiradas. Contactada a Junta de Freguesia em 19 de novembro de 2003, a mesma endereçou, em 27 de janeiro de 2004, uma carta ao Núcleo da L.C. de Abrantes informando de que as placa toponímicas tinham aparecido. Porque as mesmas se encontram na Junta de Freguesia e não nos prédios restaurados, espera-se dos donos dos imóveis a restituição das mesmas ao seu local de origem.

Bemposta - Esta Freguesia do Concelho de Abrantes possui, sem dúvida alguma, a mais bonita e extensa rua dedicada ao Combatente da Grande Guerra. Logo no início, encontra-se em local bem visível a placa que designa o nome da mesma, terminando a rua junto à Igreja. Tal como as Freguesias com toponímia dedicada aos Combatentes, também esta terra consegue resistir à tentativa de mudar a designação, perpetuando desta forma os seus heróis.

S. Facundo - Foi provavelmente a primeira Freguesia do Concelho a ter uma Rua dedicada ao C.G.G. Esta Freguesia do Concelho de Abrantes, no dia 20 de março de 1930, promoveu uma homenagem aos C.G.G., onde assistiram civis e militares de Abrantes e representantes da Câmara e Sub-Agência da Liga dos Combatentes. Do programa constou a Romagem ao cemitério, onde foi colocada uma lápide na campa do combatente António Chambel, sendo descerrada uma placa toponímica numa das ruas da aldeia com o nome de Rua dos Combatentes da Grande Guerra. Ao contrário de outras Freguesias, esta, após o restauro das suas casas antigas, manteve as placas nos locais originais.

O talhão do combatente

A Sub-Agência de Abrantes, para dar conta da sua gerência do ano social de 1931/1932, emite o seguinte comunicado: “As campas dos combatentes, existentes no cemitério desta Cidade, não tinham qualquer indicação especial, como não havia talhão especialmente destinados aos seus enterramentos. A fim de obstar à continuação desse estado de coisas, mandou a Direção fazer umas cruzes especiais, cabendo aqui dizer que foram graciosamente oferecidas pelo Grupo de Artilharia n° 24 e colocadas nas campas existentes. Quanto às sepulturas, a Câmara Municipal de Abrantes acedeu a destinar um talhão para os combatentes que, de futuro, venham a falecer”. Atualmente, de acordo com o Estatuto da Liga, todos os sócios poderão aceder ao local se assim o tiverem deixado disposto por escrito, ou os familiares seus legítimos representantes o desejarem.

PRIMEIRO MORTO

Olhei a sua face. (Era ao sol posto),

adormecera em derradeiro sonno.

E tão nobito, que tristeza! O rosto

E tinha a cor da folhagem no outono.

Tombara como herói. Um estilhaço

Abrira a chaga no seu peito forte.

Cruzara ainda os braços, num abraço

Em que estreitasse, à despedida, a morte.

Ficaria p’ra sempre em terra estranha!

E o olhar revelava a dor tamanha

De não sentir, para beija-lo, alem!

Olhei-o ainda uma vez. E que tortura

Os seus lábios, num rictus de amargura

Pareciam gemer: “Ó minha mãe!”

Um oficial do C.E.P.

Curiosidades pós conflito

Na base do Monumento aos mortos G.G. 1914/1918 (na Praça da República), encontra-se uma placa com o emblema do Sport Lisboa e Benfica, colocada em 1948, aquando da vinda deste clube a Abrantes, e que diz o seguinte:

“DIA DO BENFICA EM ABRANTES Homenagem da C.A. Ao S.L. e Benfica 20/6/1948”

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Também em 1930, e tendo como objetivo único as vítimas de guerra, a Fábrica da Companhia Lusitana de fósforos, colocou à venda a uma marca de fósforos ao qual deu o nome de “Os Combatentes”. A Liga dos Combatentes da Grande Guerra cobrava $05 por caixa. (J.A, 1543 de 13ABR 1930)

No dia 18 de junho de 1935, pelas 10H30 chegou a Abrantes a Patrulha dos Combatentes. Constituída por três combatentes da G.G., iniciaram a volta a Portugal a pé, no dia 09 de abril, tendo como objetivo visitar todos os Núcleos da L.C.G.G., depondo um ramo de flores nos monumentos eretos no País à memória dos que nela tombaram. Sendo hóspedes da LCGG de Abrantes, retiraram-se no dia 21.

O monumento aos mortos da Grande Guerra, construído na Praça da República, teve o custo total de 50.000$10. Foi pago ao arquiteto Francisco Nogueira em três prestações de 16.666$70. A primeira foi paga em 14 de agosto de 1929, a segunda em 13 de dezembro do mesmo ano e a terceira e última em 17 de novembro de 1930.

Presidentes da Sub-Agência da Liga dos C.G.G e Núcleo de Abrantes Tiago Dias do Nascimento, Alferes de Infantaria em 1923, foi o Io Presidente da Direção da Sub-Agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra em Abrantes. Além de combatente da GG. e primeiro Presidente da Sub-Agência de Abrantes, foi professor no antigo Colégio de Abrantes em 1935, local onde hoje se situa a Pensão Central e Presidente da Direção do Montepio Abrantino em 22 de dezembro de 1936.

José Garcia Marques Godinho, Major de Infantaria. Nasceu em 1881, nas Galveias, e serviu no C. E.P. (Corpo Expedicionário Português) em França. Em 1939 foi comandante do RI2. Igualmente se sabe, pela Cronologia de Abrantes no Século XX, de Eduardo Campos, que o General José Garcia Marques Godinho, foi preso por envolvimento numa conspiração contra o regime em 21 de julho de 1947. Em 24 de Dezembro do mesmo ano, morre no Hospital Militar da Estrela. Casou com D. Palmira Pimenta de Almeida Beja Marques Godinho, natural de Abrantes. Em 1946 foi um dos 46 signatários do Pacto dos Oficiais do Exército e da Marinha de Guerra Portuguesa, cujo objetivo era o afastamento de Salazar. Em 30 de Janeiro do ano seguinte a viúva do General é detida durante cerca de 15 dias após requer à Polícia Judiciária a investigação das circunstâncias que rodearam a morte do seu marido, que foi sepultado no cemitério municipal de Abrantes.

D. Luís da Costa Macedo, Major de Engenharia, tomou posse como Presidente da Direcção da L.C.G.G. de Abrantes em 1926. Durante a sua direção foi projetado o Congresso Nacional do Combatentes, tendo sido convocada reunião no Regimento de Artilharia N° 8. Em simultâneo com a presidência da Liga, o ilustrado Major fez parte da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Abrantes onde às suas custas fez o projeto do Bairro Operário, o primeiro projeto do edifício da Assembleia e da Sopa dos Pobres. (J.A. 1350 de 1926)

Se como militar e Presidente da Sub-Agência da Liga de Abrantes pouco se sabe, como Vice-Presidente da C.M.A. foi o mais estimado amigo que o povo Abrantino alguma vez teve. As suas qualidades de Engenheiro Militar foram postas ao serviço da autarquia, desprezando as sequelas políticas vividas então.

Júlio Serras Pereira, Capitão de Infantaria, nasceu no Sardoal no ano de 1893 e faleceu em Abrantes no ano de 1972. Combatente da Grande Guerra, esteve na frente de combate na Flandres (França), onde ganhou a Medalha de Cruz de Guerra. Das muitas condecorações que ostentava, saliente-se a Medalha de Mérito Militar e o direito ao uso do distintivo especial, da condecoração da Torre e Espada, a maior condecoração portuguesa, por feitos relevantes em combate.

Após a G.G. 1914/1918, o Capitão Serras Pereira, participou em Lisboa no restabelecimento da ordem publica, para reposição do regime então vivido. Entre 1941 e 1943, fez igualmente parte das tropas Expedicionárias a Cabo Verde.

Homem de carácter, coragem e sentido de solidariedade social, desempenhou sem qualquer remuneração as funções de Vice-Presidente da C.M.A., Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes, Presidente da Comissão de Assistência de Abrantes e membro da Direção da Cooperativa Militar de Abrantes. Professor e fundador do colégio liceu de Abrantes, onde lecionou as cadeiras de Inglês, Francês e História, também foi professor nos Colégios La-Salle (Abrantes) e Sardoal.

Abel Malhou Zúniga, Capitão de Infantaria, foi presidente da L.C.GG. em 1932/33. Em novembro de 1912, foi colocado no Regimento de Infantaria de Abrantes, então 22. Combatente da Grande Guerra 1914/18, esteve por duas vezes na frente de combate, precisamente em La Lys, de onde enviou diversas fotografias aos familiares e amigos em Abrantes. Em 1941/43, fez parte das Forças Expedicionários a Cabo Verde. Oficial distinto, foi Comandante do R.I. N° 2 em 1945/46. Possuidor de diversos louvores, foi condecorado com a Medalha de Mérito Militar, Ordem Militar de Avis, Medalha Comportamento Exemplar grau cobre/prata e ouro. Medalha das Campanhas do Exército Português, com a Legenda França - 1916, Estrela de Prata Medalha da Vitória e ferrrageie da Cruz de Guerra de 1ª Classe por condecoração da Bandeira do R.I. 22 (R.I.2). O Coronel Zúniga após quarenta e dois anos de serviço, passou à situação de reserva na Cidade de Abrantes em 09 de julho de 1948. Parte da biografia do Coronel Zúniga ficaria incompleta se nos esquecêssemos de lembrar que fez parte da última comissão para a conclusão do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, juntamente com um outro antigo presidente da Liga, Major José Garcia Marques Godinho.

(JA 1648 de 17ABRI932)

João Ruivo da Silva, Capitão, nasceu a 11 de agosto de 1890. No livro de quotas existente no Núcleo de Abrantes, aparece referenciado como sócio n° 135 da Sub-Agência da L.C.GG. e como tendo falecido em 13/02/68. Durante o seu mandato como presidente da Direção da Sub- Agência, e não esquecendo os objetivos da Liga, promoveu e realizou espetáculos destinados a angariar fundos destinados aos carenciados. Como prova de reconhecimento fez sair no Jornal de Abrantes n° 1817 de 14 de julho de 1935, o comunicado:

“L.C.GG

A Comissão Administrativa da Sub-Agência da Liga dos Combatentes da Grande Guerra de Abrantes, em nome das viúvas e órfãos que aproveitam dos benefícios aprestar com o aumento de fundos obtido pelo espetáculo realizado em 27 do mês findo, vem apresentar o testemunho dos seus agradecimentos, aos grupos cénico e musical que, com tanto trabalho e acerto, levaram a peça á cena, a todas as pessoas que se dignaram honrar o espetáculo com a sua presença e ainda a todas as autoridades civis e militares pelas facilidades concedidas para que a receita fosse máxima.

Sub-Agência de Abrantes, 10 de julho de 1935

O PRESIDENTE

João Ruivo da Silva

Capitão”

Carlos António Casaca, Capitão, foi após João Ruivo, Presidente da L.C.GG. de Abrantes. Do Capitão Casaca sabe-se ter sido combatente na Grande Guerra 1914/1918 e vogal efetivo da Comissão Administrativa da C.M.A., tendo tomado posse em 30 de janeiro de 1930. Nomeado seu Vice-Presidente, exercerá até ao fim do mandato as funções de presidente do Município.

Joaquim de Matos Guedelha, Capitão, foi o primeiro Presidente da C.A., do Núcleo dos Combatentes de Abrantes após o 25 de Abril de 1975. Natural do Gavião, filho de António de Matos Guedelha e de Maria de Matos André, frequentou a Escola Central de Sargentos, tendo terminado o Curso em 15 de julho de 1963. Militar condecorado com a Medalha de Mérito Militar de 3ª Classe, Comportamento Exemplar Ouro e Prata, possuía ainda as medalhas comemorativas das campanhas e comissões efetuadas ao antigo ultramar Português.

Liberto Branco, Capitão, nasceu em 21 de novembro de 1912, na Freguesia de Alvega, Concelho de Abrantes. Filho de José António Branco e de Isabel Maria Branco. Era casado com D. Maria Júlia Damas Branco, tendo contraído matrimónio em 23 de março de 1946.

O Cap. Branco frequentou a Escola Central de sargentos no ano de 1957, tendo sido promovido a Oficial em 01 /11/1959. Fez 3 comissões de serviço em Angola nos seguintes anos: 02/09/58 a 06/ 10/62- 17/02/66 a 11/09/69- 19/06/71 a 05/09/75. Além dos 25 louvores atribuídos por diversas entidades, foi condecorado com: Medalha de Comportamento Exemplar “Cobre” “Prata” “Ouro”, Medalha de Cobre de Assiduidade de Serviço no Ultramar; direito ao uso do distintivo relativo à Medalha de Ouro de Valor Militar, Medalha de Mérito Militar de 3a Classe e Medalha Comemorativa das Campanhas de Angola com a Legenda “1966/67/68/69”.

Fernando da Piedade Gonçalves, Capitão Paraquedista, nasceu a 12 de novembro de 1938, em Abrantes, na Freguesia de S. Vicente. Filho de António Gonçalves Garrafão e Sofia da Piedade, ingressou como voluntário no Batalhão de Caçadores Paraquedistas (BCP), no dia 11 de abril de 1958, tendo concluído no mesmo ano o Curso de Paraquedismo.

O Capitão Gonçalves possui o Curso de Transporte Aéreo e Lançamento de Material (1966); Curso de Instrutores e Monitores de Paraquedismo (1968) e Curso de Técnicas de Instrução (1972).

Tendo ascendido a Oficial a 07 de setembro de 1972, o Capitão Gonçalves prestou serviço nas ex-províncias ultramarinas de Angola “18/11/68 a 15/10/69”, Moçambique “20/10/63 a 01/07/66” e Guiné “15/09/68 a 15/10/69” e de “03/11/73 a 2309/74”. Condecorado com as Medalhas Militares de Comportamento Exemplar “Cobre” e “Prata”, Medalha de Mérito Militar de 4ª Classe e Medalha Comemorativa das Forças Armadas ao Norte de Angola é ainda possuidor de uma condecoração coletiva que lhe confere o direito ao uso da insígnia da Medalha da Cruz de Guerra de 1ª Classe, concedida ao B.C.P. 31.

Depois de passar à situação de Reserva em 01 de março de 1984, o Cap. Gonçalves, como sócio da Liga dos Combatentes, passou a exercer funções diretivas no Núcleo de Abrantes, como Tesoureiro e desde 31 de julho de 1985 como Presidente.

REPAROS

Durante as pesquisas efetuadas verifiquei da urgência em ser restaurado o monumento aos Mortos da Grande Guerra. A não ser reparado, o mesmo poderá vir a constituir perigo de derrocada. A armadura de ferro que sustém as figuras, encontra-se a descoberto, estando alguns fragmentos caídos junto à base do mesmo.

O memorial que se encontra à entrada do Convento de S. Domingos, pela sua importância histórica, azulejos e memorial merecem uma atenção mais cuidada. Azulejos em falta encontram-se algures guardados na Biblioteca da C.M.A. Será que não é possível utilizar a escola de restauro do Instituto Politécnico de Tomar - Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, para minimizar a deterioração destes monumentos?

In: VIEIRA, José Manuel d’Oliveira – História do Núcleo da Liga dos Combatentes de Abrantes (1923-2004). Zahara. Abrantes: Centro de Estudos de História Local. ISSN 1645-6149. Ano 3 Nº 5 (2005), p. 53-66