Feira dos Santos de Mação

 

A Feira que se realiza no Dia de Santos é a Feira maior do Concelho de Mação e arredores. Além da muita oferta apresentada nesta Feira há pormenores únicos como a distribuição dos feirantes e vários tipos de produtos ao longo das ruas numa estratégia ditada pela própria história.

 

Aquando da criação da Feira, em 1800, a sua dimensão e importância eram enormes provando a falta que fazia a Mação e Concelhos vizinhos um evento daqueles primando pela muita oferta que permitisse encher as arcas e as despensas para o Inverno, nomeadamente os cereais, e comprar todo o tipo de material agrícola entre outros produtos. Ainda hoje, não obstante a comodidade de uma ida aos hipermercados é na Feira dos Santos, a 1 de Novembro, que dezenas de famílias do Concelho e de fora se abastecem de todo o tipo de cereais, como o feijão, o grão, o milho ou os frutos secos.

Quem ainda desenvolve atividade agrícola compra ali os panos, as escadas e outros utensílios para a apanha da azeitona que se avizinha, bem como todo o tipo de árvores de fruto próprias para plantar nesta altura do ano.

 

Neste dia, porque a tradição também o dita é comum verem-se as crianças apressadas em grupos a pedir os “Bolinhos Santinhos”. Aos miúdos os mais velhos ofereciam, noutros tempos, broas, torrados, romãs ou mesmo tremoços. Hoje são mais doces de compra ou dinheiro que é, no fundo, o mais apreciado pelas crianças. De manhã pedem os “Bolinhos” para, de tarde, investir o dinheiro na Feira.

 

A Feira dos Santos associa a tradição à qualidade dos produtos oferecidos sendo, talvez, esse o segredo de se manter, ao fim de dois séculos, um evento de grande dimensão e que recebe milhares de visitantes. Mesmo nos Concelhos vizinhos é uma tradição familiar a ida à Feira dos Santos, a Mação.

 

Desde o ano 2000 pela comemoração dos 200 anos da Feira, a Câmara Municipal de Mação apostou num espaço de reconstituição histórica da Feira com elementos trajados à época, animação por Grupos de Rua, Bandas e Ranchos Folclóricos que se situa no Largo dos Combatentes da Grande Guerra, junto ao Cineteatro e à Câmara Municipal. Ali figuram antigos ourives, sapateiros, latoeiros ou mesmo albardeiros com fatos cedidos por grupos etnográficos da região sendo os produtos em mostra parte do espólio do Museu Municipal e de particulares.

Este ano apresenta-se como novidade o facto de as Associações do Concelho terem sido convidadas pela Autarquia para integrar aquele espaço. À semelhança de outros anos também as Escolas se aliam à iniciativa promovendo, junto com as famílias dos alunos, a venda de produtos agrícolas caseiros, doçaria tradicional da época e outros produtos naturais muito apreciados pelo público.

 

 

Dados cronológicos recolhidos em documentos e jornais antigos

 

1800 - Concedia o Rei a Provisão para a criação de uma Feira em Mação: "Faço saber que os moradores da Vila de Mação Me pediam fosse servido conceder-lhes uma licença para poderem ter feira nos dias primeiro, segundo e terceiro de Novembro de cada ano. Hei por bem conceder aos suplicantes a necessária faculdade para terem uma feira na sobredita Vila de Mação". Decreto de 4 de Setembro.

1907 - Noticias de Mação, 10 de Novembro: "A pouco e pouco tem-se ido desarmando a Feira, o tempo manteve-se carrancudo. Durante a feira foram presos dois cavalheiros d'industria por se reconhecer falta de perícia com que tentavam algumas transmissões por título gratuito. Um foi preso quando estava operando la palmacion d'um relógio, mas, com tanta infelicidade, que o relógio, já fora da algibeira do dono, lhe escapou da mão, batendo n'uma perna do roubado que logo deitou a unha ao “roubador".

1922 - F. Serrano: "Ano decadente da Feira dos Santos que se acha reduzida a meia dúzia de barracas de quinquilharias, alguns ourives, vendas de panos e fazendas de lã".

1932 -Terra Nostra:: "Com nunca excedida concorrência, realizou-se nos dias 1 e 2 a tradicional Feira dos Santos (...). Por determinação da Câmara foram as barracas de quinquilharias e outros artigos instalados no novo Largo dos Combatentes da Grande Guerra (...) donde vinha para a feira o nome de Feira do Apertão (...). Com a abertura daquele grande largo junto dos Paços do Concelho, não havia razão para se manter o apertão".

1940 - O Concelho de Mação, 17 de Nov.: "Realizou-se com grande concorrência nos dias 1, 2 e 3, a tradicional Feira dos Santos. O primeiro dia foi de chuva não torrencial mas quase contínua, o que desanimou os feirantes e transformou o Largo dos Combatentes e a Praça e Rua Pina Falcão, em lamaçais intransitáveis. Aquela chuva que Deus mandou no dia 1 foi mais um forte argumento para a demonstração da necessidade de arrumar a feira noutro sitio. (...) para os Largos Doutor Samuel Mirrado e de Santo António, junto da Igreja. São largos calçados com espaço suficiente e com suficiente declive para o escoamento rápido das águas da chuva. Assim acabará a feira da lama".

1941 - O Concelho de Mação 9 de Nov.: "Decorreu muito animada, com grande concorrência de barraqueiros e de compradores a Feira anual dos Santos. Tudo indicava que a Feira, contra o costume, decorreria com um tempo admirável mas, para não quebrar a tradição mandou a Providência, na tarde do dia 2, uma boa carrada de água".

1944 - O Concelho de Mação, 21 de Nov.: "Realizou-se nos dias costumados, a velha Feira dos Santos. No dia 1, chuva constante prejudicou extraordinariamente a feira.. Porém, tendo-se modificado o tempo, o dia 2 foi de enorme concorrência com o geral gáudio, especialmente dos pobres feirantes".

1964 - A Feira e o progresso que se vivia na vila, "devido à remodelação por que passaram algumas ruas, alguns produtos mudaram este ano de poiso, para evitar tanto quanto possível a abertura de buracos no calçado.

1966 - O Concelho de Mação: "Realizou-se no passado dia 1 e 2 de Novembro, em Mação, a mais antiga feira do Concelho e que atraiu à nossa terra muitos forasteiros. Esta Feira que é muito perseguida pela chuva teve este ano o tempo de feição, pois no primeiro dia esteve um sol radioso e no segundo dia apesar de encoberto, manteve-se sem chover, Os cereais continuam como já vem acontecendo de há alguns anos atrás a esgotarem-se, apesar do seu preço elevado".

 

Fonte: CIK/CMM