Zangarilha; sernar; arrelheca ou entortinhada. À primeira vista, pode parecer que estamos perante um concurso de palavras inventadas mas não. Estas palavras existem mesmo no linguajar popular dos habitantes do concelho da Sertã.

Mas a lista de vocábulos não se fica por aqui, pois há muitos mais. Vamos por partes e expliquemos estes quatro termos. Se não quiser ler o texto que se segue e optar por consultar um qualquer Dicionário de Língua Portuguesa talvez tenha sorte em encontrar a primeira palavra, zangarilha. Quanto ao resto, ficará no escuro.

A palavra zangarilha, segundo os dicionários, decorre do termo zangarilhar, ou seja «andar para trás e para diante». Mas na Sertã, essa palavra tem um significado bem diferente, pois refere-se à engrenagem, constituída por um torno e uma pá, que faz girar uma mó para moer os cereais.

Já sernar é uma expressão usada na aldeia do Nesperal e diz respeito ao ato de expor no telhado, durante a noite, vinho ou aguardente. Quanto a arrelheca, é um termo a que as pessoas mais antigas na Sertã recorriam para designar alguém com mau caráter.

O oculto entra em cena quando nos referimos a entortinhada. O termo era habitualmente aplicado na freguesia da Cumeada para sintetizar a expressão «unha do diabo».

Mas há outros termos, que nos remetem para o universo dos neologismos fonológicos como é exemplo ‘açucre’ (em vez de açúcar), ‘advartir’ (divertir), ‘alacrário’ (lacrau; escorpião), ‘alevantar’ (o mesmo que levantar), ‘alimbrança’ (lembrança), ‘podendes’ (em vez de podeis) e ‘dezer’ (dizer).

Mas no maravilhoso mundo da linguagem popular da Sertã cabem outras expressões como “apanhar para a borracha” (apanhar diretamente a azeitona das oliveiras para as cestas ou maquias) ou “chegado de bolos” (refere-se à porção de bolos para os casamentos).