Eduardo Campos*

 

Maria João Rosa**

 

 

 

Até ao final do primeiro quartel do século XVIII não existia em Portugal qualquer obra que, com segurança, descrevesse o Reino terra a terra. E certo que no século anterior haviam sido feitas algumas tentativas nesse sentido1 mas tais obras, como de resto seria de esperar, não desciam às particularidades da aldeia ou do lugarejo recôndito. E igualmente certo que em 1706 o padre António Carvalho da Costa com a sua Corografia portugueza, e descriçam topografica do famoso reyno de Portugal... havia tentado superar essa lacuna, descendo efectivamente à referência dos lugares que compunham as freguesias constitutivas dos concelhos, mas o modo como o fez tornou o eu trabalho inaproveitável em múltiplos aspectos, dada a profusão de erros e inexactidões que contém. 

Em Janeiro de 1721, por iniciativa dos académicos da Academia Real da História Portuguesa, fundada no ano anterior, foi enviado a todas as autoridades eclesiásticos do Reino um interrogatório impresso no qual se pediam notícias de todas as coisas memoráveis de todos os ugares do Reino, com vista à elaboração de uma historia ecclesiastica deste Reino e suas conquistas...2  

Posto fosse esse o desejo manifestado pelos académicos, já então estaria na mente do padre Luís Cardoso (? — 3 de Julho de 1769), da congregação Oratoriana, a edição de um dicionário geográfico. Com efeito, no prólogo do seu Diccionario geografico, ou noticia historica de todas s cidades, Villas, lugares, e aldeas, Rios, Ribeiras, e Serras dos Reynos de Portugal e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontrão, assim antigas, como modernas3 diz-nos que a sua primeira intenção fora escrever um Index geral, ou Repertorio dos três tomos da já referida Corographia Portugueza, por ser difícil encontrar-se neles o que cada hum buscava, elo modo confuso como aquela obra havia sido escrita. Mas como ela contivesse muitos dados genealógicos e como ao padre Cardoso apenas interessasse a geografia, abandonou o primeiro projecto e iniciou a elaboração de um outro índice circunscrito aos informes geográficos.

Estava elle já não pouco adiantado — escreve Cardoso4 mas como sempre nos ficava o sentimento de que a este grande corpo lhe faltavão as veyas, e os ossos, que são as serras, as fontes, e os rios tão celebres nas pennas dos Escritores antigos, assim nacionaes, como estranhos, de que a Corografia não da mais, que huma escassa noticia. Tomámos outro expediente, que consistiu no aproveitamento das respostas dos párocos. Efectivamente, quem melhor do que eles estaria em condições de dar resposta a perguntas de pormenor referentes a pequenas circunscrições territoriais?

Assim, pois, à medida que as respostas iam chegando a Lisboa, o padre Cardoso tratou de lhes dar ordem e uma vez todas reunidas deu início à publicação do célebre Diccionario Geographico.

Sobrevindo entretanto o terramoto de 1755, as respostas manuscritas perderam-se debaixo dos escombros, pelo que o projecto de Luís Cardoso ficou seriamente comprometido. 

Homem excessivamente crédulo (não obstante as críticas que nesse sentido teceu a Carvalho da Costa), mas ao que parece possuidor de grande tenacidade, pediu autorização à Secretaria de Estado do Reino para que os Parochos do Reino enviassem novas Descripções das suas Freguezias com aquellas escropulosas miudezas, autorização que lhe foi concedida em 1758. Expediram-se então os novos interrogatórios, muito semelhantes aos primeiros e, não obstante a maior parte dos párocos terem respondido prontamente e remetido as suas respostas para Lisboa, as infermidades, ou a velhice, ou o presentimento da morte, ou tudo juncto fês, que o Pe. Cardoso olhasse como impossivel a execução do seo Projecto 5, pelo que à data da sua morte as descrições enviadas eram um montão confuso de papel, colocado todavia a resguardo na biblioteca da Casa das Necessidades, até que em 1832 um padre na mesma congregação cometeu a zelosa tarefa de as ordenar em forma de dicionário, encadernando-as em 43 volumes a que juntou outro com um prólogo e um índice geográfico, sendo em 1834 transferidas para o Arquivo Nacional, onde hoje se encontram.

  

 

TRADIÇÃO HISTÓRICA DE ALDEIA DO MATO

 

ALDEIA DO MATO é um antigo lugar do concelho de Abrantes cuja existência é atestada pelos séculos XII/XIII: "...ffrey Pero do Vááó Comendador de beluéér deu aforo os herdamentos que o spital ha na aldea do Mato termho d aurantes " 6. Seria então como o documento sugere, um pequeno casal ou pouco mais, curato da Ordem de Malta, onde já existiria a igreja de Sta Maria dos Matos. 

Em 1527 permanecia como uma simples vintena, com 15 moradores7. 

O padre António Carvalho da Costa, em 1712, diz que tinha 58 vizinhos e que a freguesia era constituída pelos lugares: Fontainhas, Modroa, Cazinha, Rio de Moinhos, Carreyra do Mato, Cabeça gorda, Bayrros, & Figueyras (...) he esta Aldea abundante de lentilhas, de que fazem pão, com que se sustentão, tem muytas parreyras de enforcado, a que chamão labruscas, recolhe algum trigo, & centeyo, & he terra muyto fresca, por ter muyta abundancia de aguas8. 

Luís Caetano de Lima (1736), diz que a paróquia de Santa Maria Magdalena de Aldea da Matta, tinha 80 fogos e 336 almas 9 e o padre Luís Cardoso (1747) refere o seguinte10: 

Lugar na Provincia da Estremadura, Priorado do Crato, Termo, e Ouvidoria da Villa de Abrantes: consta de oitenta e quatro visinhos, e he seu Donatario o Senhor Infante D. Pedro. Está situado em montes, e Valles, donde se descobrem as Villas de Abrantes, e Thomar, e outros differentes Lugares. Tem Igreja Paroquial fundada no cimo do Lugar filial da Matriz, da Villa de Belver Consta de três Altares, o mayor com a Imagem de Santa Maria Magdalena, Orago da Casa, e dous mais, hum dedicado a Santo Antonio, e outro às Almas santas. He Igreja de huma só nave, e tem duas Irmandades, a de Nossa Senhora do Rosario, e a de Santa Maria Magdalena.

 

O Paroco he Reytor apresentado pelo Senhor Infante D. Pedro, como Grão Prior do Crato, e tem de renda em cada anno noventa alqueires de trigo, trinta de centeyo, vinte e cinco almudes de mosto, huma carga de tinta, tres mil reis em dinheiro e meya arroba de cera.

Os frutos, que recolhem em mayor abundancia os moradores desta terra, são; trigo, centeyo, milho, cevada, grande copia de lentilhas, feijoens, muita uva embarrada pelos valles, e toda a casta de frutas, principalmente cereja, e figos. He sugeita no secular às Justiças da Villa de Abrantes, que aqui poem Juiz da vintena, e no espiritual à Villa de Belver. Gozão os moradores do privilegio de alta, por pertencer este Lugar à dita Ordem. He abundante de agua de pé, ainda que não se sabe, que em alguma das suas fontes haja qualidade de especial nota. 

Nestes limites fica a serra da Modroa, e passa por aqui o rio Zezere, e ambos fazem a terra mimosa, este de peixe, e aquella da caça. 

Em 6 de Novembro de 1836, em consequência do decreto que procedeu à divisão do território nacional, Aldeia do Mato foi desanexada do concelho de Abrantes passando para o de Constância, mas os seus moradores recusaram-se a aceitar a mudança, pelo que o Governo, por aviso de 17 de Abril de 1837, ordenou a anexação determinada. Por decreto de 12 de Junho do mesmo ano voltou definitivamente para o concelho de Abrantes 11  

A freguesia de Aldeia do Mato tem uma área de 31 km2 situa-se na parte Norte do concelho sendo constituída pelas localidades de Pucariça, Medroa, Carreira do Mato, Cabeça Gorda, Bairro Cimeiro, Bairro Fundeiro, Vale de Chões e Vale Manso.

 

A área em que está inserida esta freguesia é uma das áreas mais declivosas do concelho. Fica situada numa zona planáltica, que abrange todo o Norte do concelho, com altitudes na ordem dos 200 metros e ligeiramente inclinada para o Ho. Predominam nesta zona, formações geológicas pertencentes ao Maciço Antigo, onde se podem reconhecer, vários tipos de rochas metamórficas do Precâmbrico. A superfície é sulcada, por alguns cursos de água, alguns dos quais, originaram vales bastante escavados. A orientação dos cursos de água indicia uma origem tectónica, denunciando falhas. O subsolo desta zona não é rico. 

Em termos climatológicos, está numa zona mais chuvosa e mais fria, com amplitudes térmicas menos acentuadas que no Sul do concelho possuindo características climatológicas locais diferenciadas em relação ao resto do concelho, que lhe advêm possivelmente, por um lado das características topográficas, por outro da proximidade da barragem de Castelo de Bode. 

Em termos de uso do solo, a utilização florestal é predominante (cerca de 50% do solo está afecto a este uso). O povoamento desta zona é tradicionalmente feito por pinheiros bravos, havendo-se registado nos últimos anos um aumento considerável de eucaliptos (resultado da facilidade de escoamento para as fábricas de pasta de papel). 

Em termos de evolução da população verificamos que esta aumentou consideravelmente entre 1930 e 1950, verificando-se a partir desta data uma progressiva e continua diminuição, a qual tem sido acompanhada por um cada vez maior envelhecimento. A explicação para este facto encontra-se nos movimentos migratórios, em direcção às grandes cidades e em direcção a países, como França, Suíça e Alemanha, notórios, sobretudo, a partir de finais da segunda Guerra Mundial. Ao nível da repartição por sexos, verificamos, que é, sobretudo no grupo etário com 65 e mais anos que se verifica um maior desequilíbrio entre os sexos, com um total de elementos do sexo feminino superior ao masculino.

 

O recenseamento nacional de 1801 não menciona esta freguesia, mas o realizado em 1849 atribui-lhe os seguintes valores12:

 

  

Fogos

Habitantes

Masculinos

 

Habitantes

Femininos

Nascimentos Masculinos

 

Nascimentos Femininos

Óbitos Masculinos

 

 

Óbitos Femininos

Casamentos

165

294

 

321

8

 

7

10

 

 

8

3

 

 

615

 

15

 

18

 

 

  

 

Os dados demográficos apurados nos últimos oito recenseamentos nacionais são os que o gráfico apresenta:

  

Evolução da População

  

 

                      Anos  1930   1940   1950   1960   1970  1981  1991  2001    

 

 

ALDEIA DO MATO

 

/f. 621/ Aldeya do Matto do Matto [sic] do Priorado do Crato no termo de Abrantes.

 

1- Em que província fica, a que bispado, comarca, termo e freguesia pertence?

1 - Aldeya do Mato está na provincia da estremadura, hé Priorado do Cratto, termo da Comarcha de Thomar.

2 -  Se é de el-rei, ou de donatário, e quem o é ao presente?

3 - He do Senhor Infante Dom Pedro;

3 - Quantos vizinhos tem [e o número das pessoas]?

3 - Tem esta freguezia cento, e des fogos, tem pessoas de maior idade trezentas, e vinte, e de menor idade quarenta, e quatro.

4 - Se está situada em campina, vale, ou monte, e que povoações se descobrem dela, e quanto dista?

4 - Está situada em hum valle, toda rodeada de montes e della se não descobre senão hum cazal chamado o vale do Roxo, freguezia da Serra, termo de Thomar, que distará huma legoa.

5 - Se tem termo seu, que lugares, ou aldeias compreende, como se chamam, e quantos vizinhos tem?

5 - He termo de Abrantes. Comprehende esta Aldeya, que tem onze moradores, e mais = Bairros = Cabeça gorda = Carreira do matto = Rio de moinhos = Cazinha = Medroa dos Chaos = Fontainhas = Figueiras =.

6 - Se a paróquia está fora do lugar, ou dentro dele, e quantos lugares, ou aldeias freguesia, todos pelos seus nomes?

6 - A parochia esta fora da Aldeya, e não dista da ultima caza mais do que ocupa a estrada, que vem de Coimbra para Abrantes.

7 - Qual é o seu orago, quantos altares tem, e de que santos, quantas naves tem; se tem irmandades, quantas, e de que santos?

7 - O orago he de Santa Maria Magdalena, e tem esta /f. 622/ Igreja tres altares = o altar tem hum quadro perfeito da Imagem de Santa Maria Magdalena, e huma Imagem da mesma Santa, e huma Imagem de nossa Senhora do Rozario. Hum dos coleterais hé das almas com hum painel das mesmas, e hum perfeito Cruxufixo, e Sam Sebastiam. = O outro colateral, hé de Santo Antonio com a sua Imagem, e o Divino Espirito Santo, e a imagem de nossa Senhora da Graça.

8 - Se o pároco é cura, vigário, ou reitor, ou prior, ou abade, e de que apresentação é, e que renda tem?

8 - O Parocho he Reitor Cura perpetuo, aprezentado pello Serenissimo Senhor Infante Dom Pedro e tem de ordinario noventa alqueires de trigo, trinta de senteio; huma pipa de mosto a bica, e meia carga de tinta, tres mil reis em dinheiro, meia arroba de sera para a fabrica, dois alqueires de azeite para a lampada.

9 - Se tem beneficiados, quantos, e que renda tem, e quem os apresenta?

10 - Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os seus

11 - Se tem hospital, quem o administra, e que renda tem?

12 - Se tem casa da misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e o que notável em qualquer destas coisas?

13 - Se tem algumas ermidas, e de que santos, e se estão dentro, ou fora do lugar, a quem pertencem?

14 - Se acode a elas romagem, sempre, ou em alguns dias do ano, e quais são estes?

Do outavo interogatorio athe ó decimo quarto inclusive nada.

 

15 - Quais são os frutos da terra, que os moradores recolhem em maior abundância?

15 - Os frutos desta freguezia sam trigo, e senteio medianamente, e sevada pouca, milho meudo, e grosso mais se lavra, tambem se produs mestura, que hé senteio, trigo sevada, e lentilhas alguns annos em abundancia; azeite tambem, alguns feijois, uvas de embarrado, que vinhas não há, algumas peras, e maçans figos e bastantes sereijas. e excelentes melancias.

16 - Se tem juiz ordinário, etc., câmara, ou se está sujeita ao governo das justiças de outra terra, e qual é esta? 

16 - Não tem Juis ordinario, só tem Juis da ventana sujeito ao de Fora de Abrantes.

17 - Se é couto, cabeça de concelho, honra ou beetria?

18 - Se há memória de que florescessem, ou dela saíssem, alguns homens insignes por virtudes, letras ou armas?

19 - Se tem feira, e em que dias, e quantos dura, se é franca ou cativa?

17 - 18 - 19 - nada.

20 - Se tem correio, e em que dias da semana chega, e parte; e, se o não tem, de que correio se serve, e quanto dista a terra aonde ele chega?

20 - Não tem Correio, e as cartas vem de Abrantes.

21 - Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa, capital do reino?

/f. 623/21 — Dista do Cratto, Cabeça deste Priorado, nove leguas, e de Lisboa vinte, e quatro.

22 - Se tem alguns privilégios, antiguidades, ou outras coisas dignas de memória?

22 - Tem hum previlegio manuscripto, que os livra de sizas, fintas, portagens, tirado das bullas Pontificias.

23 - Se há na terra, ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas águas tem alguma especial qualidade?

24 - Se for porto de mal; descreva-se o sítio que tem por arte ou por natureza, as embarcações que o frequentam e que pode admitir?

25 - Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros; se for praça de armas, descreva-se a sua fortificação. Se há nela, ou no seu distrito algum castelo, ou torre antiga, e em que estado se acha ao presente?

26 - Se padeceu alguma ruína no terramoto de 1755, e em que, e se está reparada?

27 - E tudo o mais, que houver digno de memória, de que não faça menção o presente interrogatório.

Os mais Capitullos (23, 24, 25, 26 e 27) deste número nada.

Interrogatorio segundo

 

 

O QUE SE PROCURA SABER DESSA SERRA É O SEGUINTE

 

1 - Como se chama?

2 - Quantas légoas tem de comprimento, e quantas de largura; onde principia, e onde acaba?

3 - Os nomes dos principais braços dela?

4 - Que rios nascem dentro do seu sítio, e algumas propriedades mais notáveis deles; as partes para onde correm, e onde fenecem?

5 - Que vilas' e lugares estão assim na serra, como ao longo dela?

6 - Se há no seu distrito algumas fontes de propriedades raras?

7 - Se há na serra minas de metais, ou canteiras de pedras, ou de outros materiais de estimação?

8 - De que plantas, ou ervas medicinais é a serra povoada, e se se cultiva em algumas partes, e de que géneros de frutos é mais abundante?

9 - Se há na serra alguns mosteiros, igrejas de romagem, ou imagens milagrosas?

10 - A qualidade do seu temperamento?

11 - Se há nela criação de gados, ou de outros animais, ou caça?

12 - Se tem alguma lagoa, ou fojos notáveis?

13 - E tudo o mais que houver digno de memória?

Neste segundo interrogatório não há que dizer pois não há serra, nem couza de que se fassa mensam, só se criam em estes montes alguns coelhos, e perdizes, poucas lebres, alguma criacam de leitois, cordeiros e alguns cabritos.

  

Terceiro interrogatorio

 

O QUE SE PROCURA SABER DO RIO DESSA TERRA É O SEGUINTE

 

1 - Como se chama, assim o rio, como o sitio onde nasce?

 

2 - Se nasce logo caudaloso, e se corre todo o ano?

 

1 - 2 - O Rio, que comprehende esta freguezia se chama o Rio Zezere; dizem nasce na Serra da estrela.

 

3 - Que outros rios entram nele, e em que sítio?

 

3 - Não posso dizer por neste destrito não entrar nelle algum rio.

 

4 - Se é navegavel, e de que embarcações é capaz?

 

4 - Pode ser navegavel de inverno, e de verão só de alguns bateis de pescadores pequenos.

 

5 - Se é de curso arrebatado, ou quieto, em toda a sua distância, ou em alguma parte dela?

 

5 - O que comprehende esta freguezia hé de curso bastante arrebatado.

 

6 - Se corre de norte a sul, se de sul a norte, se de poente a nascente, se de nascente a poente?

 

6 - Nesta freguezia corre entre norte, e nascente.

 

7 - Se cria peixes, e de que espécie são os que trás em maior abundância?

 

7 - Os peixes que nelle se criam sam barbos, bogas, e bordallos, e em mais abundancia = barbos = /f. 624/.

 

8 - Se há nele pescarias, e em que tempo do ano?

 

8 - Neste rio se pescam saveis e lampreas, peixe de aribaçam, e de ordinario principia a pescaria em fevereiro, e finda em Mayo.

 

Se as pescarias são livres, ou de algum senhor particular; em todo o rio, ou em alguma parte dele?

 

9 - As pescarias dos sobreditos peixes se pescam em caneiros dos Cazais da Sagrada Religiam de Malta do Serenissimo Senhor Infante Dom Pedro, e pagam o quarto destes peixes a sobredita Sagrada Religiam. Só tem hum caneiro chamado o dos Pomares, que só paga dizimo de des hum.

 

10 - Se se cultivam as suas margens, e se tem muito arvoredo de fruto, ou silvestre?

 

11 - Se tem alguma virtude particular as suas águas?

 

10 - 11 = nada.

 

12 - Se conserva sempre o mesmo nome, ou o começa a ter diferente em algumas partes, e como se chamam estas, ou se há memória de que em outro tempo tivesse outro nome?

 

12 - Nam me consta mude o nome, nem em outro tempo o tivece.

 

13 - Se morre no mar; ou em outro rio, e como se chama este, e o sítio em que entra nele?

 

13 - Finda o seu curso em Punhete, metendo-se no Tejo onde finda o seu nome. Nos mais interrogatorios dos numeros seguintes athe ao vigecimo ultimo não há couza, que possa dizer.

 

14 - Se tem alguma cachoeira, represa, levada, ou açudes que lhe embaracem o ser navegável?

 

15 - Se tem pontes de cantaria, ou de pau, quantas, e em que sítio?

 

16 - Se tem moinhos, lagares de azeite, pisões, noras, ou outro algum engenho?

 

17 - Se em algum tempo, ou no presente, se tirou ouro das suas areias?

 

18 - Se os povos usam livremente das suas águas para a cultura dos campos, ou com alguma pensão?

 

19 - Quantas légoas tem o rio, e as povoações por onde passa, desde o seu nascimento até onde acaba?

 

20 - E qualquer outra cousa notável que não vá neste interrogatório.

 

E eu o Padre Mattheus Lopes, Reitor Cura proprietario nesta freguezia de Aldeya do Matto Priorado do Cratto, respondi aos interrogatorios inclusos na verdade conforme o meu conhecimento. Aldeya do Matto, 5 de Outubro de 1759.

 

 

O Reitor Cura Mattheus Lopes.

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

 

AZEVEDO, Pedro Augusto de O Diccionario Geographico do Pe. Luis Cardoso, in volume I, nº10 (Outubro de 1895), Museu Ethnographico Português, 1895.

 

 

CARDOSO, Luís, Diccionario geografico, ou noticia historica de todas as cidades, Rios, Ribeiras, e Serras dos Reynos de Portugal e Algarve, com todas nelles se encontrão, assim antigas, como modernas, volume I, Lisboa, na 1747.

 

 

CHORÃO, Maria José Mexia Bigotte, Inquéritos promovidos pela Coroa no século XVIII, in Revista de História Económica e Social, volume XXI, (pp. 93-119), Lisboa, Livraria Sá da Costa , 1987.

 

 

COSTA, António Carvalho da, Corografia Portugueza, e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal, com as noticias das fundações das Cidades, Villas, & Lugares, que contèm…, tomo III, Lisboa, na Officina de Valentim da Costa Deslandes, 1712.

 

 

Diário do Governo, nº 141, de 17 de Junho de 1837.

 

 

FIGUEIREDO, José Anastácio de, Nova historia da Militar ordem de Malta, e dos senhores Grão-piores della, em Portugal, Lisboa, na Officina de Simão Thadeo Ferreira, 1800.

 

 

FREIRE, Anselmo Braamcamp, Povoação da Estremadura no XVI. Seculo, in Arquivo Histórico Português, VI, (pp. 263-264), Lisboa, Oficina Tipográfica Calçada do Cabra, 1908.

 

Instituto Nacional de Estatística, Recenseamento Geral da População e Habitação, 2001 / Resultados Definitivos) — www.ine.pt

 

LIMA, Luís Caetano de Geografia histórica de todos os estados soberanos de Europa…, volume II Lisboa Occidental, na Officina de Joseph Antonio da Sylva, 1736.

 

MACHADO, Diogo Barbosa, Bibliotheca Lusitana: historica, critica, e cronológica na qual se compreende a noticia dos authores portuguezes, e das obras, que compuseram desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até o tempo prezente, tomos II e III, revista por Manuel Lopes de Almeida e César Pegado, Coimbra, Atlântida, 1966

 

MORATO, Manuel António (e MOTA, João Valentim da Fonseca), Memória Histórica da notálvel vila de Abrantes, para servir de começo aos anais do Município, Abrantes, Câmara Municipal de Abrantes, 3ª edição, 2002.

 

SILVEIRA, Luís Nuno Espinha da (coordenação), Os Recenseamentos da População Portuguesa de 1801 e 1849: Edição crítica, vol. III, Lisboa, Instituto Nacional de Estatística, 2001.

 

Notas:

 

*Coordenador de Gestão Documental dos Arquivos da Câmara Municipal de Abrantes, investigador da História de Abrantes e membro do CHELA.

 

**Maria João Rosa - Professora de Geografia, membro do CEHLA.

 

1No que ao século XVI respeita, refiram-se entre outros: António de Vasconcelos, Anacephalaeoses id est, summa capita actorum Regum Lusitaniae, Antuerpiae, apud Petrum et Joannem Belleros, 1621; António de Sousa Macedo, Flores de España excelencias de Portugal: en que brevemente se trata Io mejor de sus historias, y de todas Ias del mundo desde su principio hasta nuestros tiempos, y se descubren muchas cosas de provecho, y curiosidad: primera parte... , Lisboa, por Jorge Rodriguez, 163 1; Francisco de Melo e Torres, Introduçaõ Geografica, 1638, (ms.) referida por Barbosa Machado na Bibliotheca Lusitana, II, pp.202-203; Rodrigo Mendes Silva, Poblacion general de España: sus trofeos, blasones y conquistas heroycas..., Madrid, Diego Dias de Ia Carrera, 1645; Manuel Severim de Faria, Noticias de Portvgal..., Lisboa, na Officina Craesbeeckiana, 1655; Pedro Teixeira, Descripçaõ, e Mappa geral do Reino de Portugal, 1662, referida por Barbosa Machado na Bibliotheca Lusitana, III, p. 622 e Pedro Poiares, Diccionario lusitanico latino de nomes proprios de regioens; reinos; provincias; cidades..., Lisboa, na Officina de loam da Costa, 1667. Relativamente à centúria seguinte, a primeira tentativa conhecida é a Corogrq/ia portugueza, e descriçam topogrqfica do famoso reyno de Portugal...

 

  1. Vid. Maria José Mexia Bigotte Chorão, Inquéritos promovidos pela Coroa no século XVIII, pp. 93-119.

     

  2. Apenas foram publicados dois volumes: o, 1º volume, A-AZU, 1747 e 20. volume, BAB-CUV, 1751.

     

  3. Prologo ao Diccionario.

     

  4. Pedro Augusto de Azevedo, O Diccionario Geographico do Pe. Luis Cardoso, in O Archeologo

    Português, volume I, n.0 IO (Outubro de 1895), pp. 267-268. Os interrogatórios que acompanham estas Memórias foram retirados desta revista a pp. 268-271, onde foram publicados por Gabriel Pereira.

     

    6 José Anastácio de Figueiredo, Nova Historia da Militar Ordem de Malta..., parte II, p. 117 e parte I, p. 159.

 

  1. Arquivo Histórico Português, volume VI, 263-264.

     

  2. Corografia Portugueza, e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal, tomo III, p. 189.

     

  3. Geografia histórica de todos os estados soberanos de Europa..., volume II, p. 672

     

  4. Diccionario geografico, ou noticia historica de todas as cidades, Villas, lugares, e aldeas, Rios, Ribeiras, e Serras dos Reynos de Portugal e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontrão, assim antigas, como modernas, volume I, p. 217.

     

    11 Diário do Governo, n.0 141, de 17 de Junho.

     

    12 Luís Nuno Espinha da Silveira (coordenação), Os Recenseamentos da População Portuguesa de 1801 e 1849: Edição crítica, volume III, p. 745. Dados estatísticos entre 1859 a 1868 podem ver-se em Manuel António Morato, Memória histórica da notável vila de Abrantes, 3a edição.