rancho tramagal

POR TERESA APARÍCIO

Os fundadores deste rancho foram: Custódia de Jesus Gentil, Maria Adelina Gentil Domingos e António Ferreira Eugênio.

Em 8 de Janeiro de 1982, algumas pessoas de Tramagal dirigiram-se à D. Custodia para que ela organizasse uma marcha de crianças, para o Carnaval desse mesmo ano. A verdade é que não se lembraram desta senhora por acaso - já no Carnaval de 1964, ela tinha organizado uma marcha de que a população tinha gostado muito. Ao ser novamente solicitada, D. Custodia empenhou-se muito a sério nessa tarefa e, com a ajuda de familiares e amigos, conseguiu apresentar um trabalho de tal modo interessante que a marcha teve um enorme êxito e, imediatamente, apareceram inúmeros convites, para o grupo atuar em festas variadas.

A esta marcha inicial foi depois dado o nome de Rancho Infantil de Tramagal, passando a partir de 1984 a estar ligado a Casa do Povo, com o nome que ainda hoje mantém.

As danças e os cantares populares faziam parte das tradições do povo de Tramagal, como de resto de todo o país rural. Até à década de quarenta do século XX, os rapazes e raparigas desta aldeia, vestidos com as roupas habituais de festa ou de trabalho, conforme as circunstâncias, tinham por hábito cantar e dançar ao domingo, no Largo do Terreiro, no Largo da Igreja, em casas particulares, ou então de semana, quando regressavam do trabalho: apanha da azeitona, do milho, vindimas, descamisadas, etc. Na década de oitenta, ainda estavam vivas muitas destas pessoas e a sua memória guardava a música e a letra das canções, os passos das danças tradicionais e nas arcas encontravam-se guardadas muitas das velhas roupas de outrora.

Ao pensarem organizar um rancho a sério, os fundadores do grupo andaram de porta em porta, fazendo uma recolha exaustiva de todos esses materiais antigos e que, sem esse trabalho, teriam ficado irremediavelmente perdidos pois, hoje, todos os que detinham esses conhecimentos já não pertencem ao número dos vivos.

Os trajes eram variados: havia o fato dos noivos, dos lavradores abastados, de romaria, de ir à missa, de camponeses, moleiros, etc. Foi a própria D. Custódia que ou confecionou ou orientou outras senhoras na confeção das cópias dos fatos que passaram a ser usados pelos elementos do rancho, tendo sempre como base os originais que os familiares emprestaram.

Muitos dos membros fundadores ainda agora, passados tantos anos, se mantêm no rancho, o mesmo acontecendo com a direção, que atualmente é a seguinte:

  • Presidente: António Ferreira Eugênio - hoje com setenta e sete anos;
  • Vice-presidente: Custódia de Jesus Gentil - hoje com setenta e três anos;
  • Tesoureira: Maria Adelina Gentil Domingos.

O rancho comporta 39 elementos:

  • 3 pessoas da direção;
  • 26 dançarinos;
  • 2 cantadores;
  • 8 tocadores.

A ensaiadora é, desde o seu início, a D. Custódia de Jesus Gentil.

O elemento que hoje estabelece a ligação deste rancho com a Secção Cultural da Casa do Povo de Tramagal é o senhor José Manuel Moreira Andrade.

O grupo, (que tem duas cassetes gravadas, uma em 1987, outra em 1993), já fez chegar as suas danças e cantares a inúmeras localidades de norte a sul do país e, no estrangeiro, já esteve em Espanha, França e Polónia. Neste último país, recebeu uma importante distinção, que lhe foi atribuída no VIII Encontro Internacional de Folclore, que decorreu na cidade de Kolobrezeg, em agosto de 1999.

O rancho está atualmente sedeado no edifício de uma antiga escola primária, onde também se encontra um núcleo museológico alusivo ao mesmo: numa sala estão todas as condecorações, noutra os inúmeros troféus (prendas e galhardetes) recebidos nos muitos locais onde já atuou. Neste mesmo edifício, também se encontra um núcleo etnográfico com cozinha e quartos, tudo completamente apetrechado, segundo o que era uso no final do século XIX e inicio do século XX.

Este rancho tem organizado e ainda organiza todos os anos, no mês de julho, um Festival de Folclore, no qual costumam participar ranchos de vários pontos do país e também de Espanha.

IN: APARÍCIO, Teresa – Rancho folclórico da Casa do Povo de Tramagal. Zahara. Abrantes: Centro de Estudos de História Local. ISSN 1645-6149. Ano 6. Nº 11 (2008), p. 70-71